BUENOS AIRES - A 18 dias de deixar o poder, a presidente argentina, Cristina Kirchner, votou ao meio-dia (13 horas em Brasília) deste domingo, 22, quando já haviam feito o mesmo 21% dos eleitores. Embora estivesse proibida por lei de pedir votos para seu candidato, Daniel Scioli, ela fez várias referências à crise institucional e econômica de 2001, associada pela campanha governista ao conservador Mauricio Macri, que aparece na frente em todas as pesquisas.
"Eu era senadora e tive de sair (em 2001) à meia-noite do Congresso com o ex-presidente Raúl Alfonsín porque o Parlamento estava cercado por gente enfurecida. Só a esta hora conseguimos sair, com um cordão de isolamento. Jogaram garfos, colheres, panelas. Os políticos não podiam sair de casa", disse a presidente a vários canais de TV, que transmitiram seus comentários ao vivo. Ela vota em Río Gallegos, berço político da família, a 2,5 mil quilômetros de Buenos Aires.
A presidente disse que há diferença clara entre os dois projetos e "nada é para sempre". "O futuro depende das políticas públicas do Estado. Durante todos esses anos o Estado acrescentou coisas. Antes, tirava coisas", afirmou, também seguindo a linha da campanha de Scioli, que atribui a Macri um ajuste eminente que desvalorizaria o peso.
Cristina termina seus dois mandatos com aprovação de 40% e preferiu não se candidatar a nada. Seus críticos acreditavam que ela recorreria a algum cargo parlamentar para se proteger de eventuais ações na Justiça. A causa mais importante envolvendo sua família é a Hotesur, que investiga lavagem de dinheiro. Há indícios que diárias do hotel Alto Calafate foram pagas por um empresário amigo dos Kirchners, Lázaro Báez, sem que os quartos estivessem efetivamente ocupados. A Justiça investiga se as licitações que ele obteve durante os 12 anos de kirchnerismo, iniciados com Néstor (2003-2007), têm relação com esses pagamentos.