BUENOS AIRES - Lideranças da comunidade judaica argentina e parentes das vítimas do atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) pediram nesta sexta-feira que o governo da presidente Cristina Kirchner "tome medidas concretas" e revogue o acordo feito no ano passado com o Irã para criar uma "comissão" para investigar o ataque terrorista que em 1994 matou 85 pessoas e feriu e feriu outras 300 no bairro portenho de Balvanera. O atentado constitui o maior ataque terrorista da História da América Latina.
Durante os discursos em memória dos mortos do atentado que completou 20 anos, o vice-presidente da AMIA, Ralph Thomas Saieg, pediu que o Parlamento revogue o acordo e que o governo Kirchner "tome ações para reclamar justiça no máximo nível internacional".
Saieg também ressaltou que o governo Kirchner atarefa-se em pedir respaldos internacionais para reivindicar as ilhas Malvinas ou para solicitar apoio no conflito que a Casa Rosada mantém com os credores da dívida pública. No entanto, o governo Kirchner não pede o respaldo do Mercosul, Unasur, OEA e outras organizações para avançar no julgamento dos culpados.
Saieg sustentou que os iranianos acusados do atentado deveriam ser "submetidos a um julgamento na Argentina". As lideranças da comunidade judaica e integrantes dos partidos da oposição afirmaram que os pedidos de captura emitidos pela Interpol "não devem ser apenas uma mera formalidade".
Entre as figuras que a Justiça em Buenos Aires quer colocar no banco dos réus pela acusação de organizar o ataque contra a Amia está Ahmad Vahidi, atual ministro da Defesa, que em 1994 ocupava o posto de comandante da Força Quds. Nesta sexta-feira, o lema das cerimônias pelos mortos na AMIA foi "nem um dia de esquecimento".
A cerimônia foi encerrada com uma mensagem do papa Francisco gravada em um vídeo, no qual o sumo pontífice sustenta que o atentado de 1994 "foi uma tragédia, uma loucura". Segundo o papa, um portenho do bairro de Flores, "o terrorismo é uma loucura, que só sabe matar, não sabe construir. Só destrói!"
Histórico. A Justiça argentina acusa um grupo de altas autoridades que integravam o governo iraniano da época do presidente Ali Akbar Rafsanjani, de terem organizado o ataque em conjunto com o Hezbollah e uma conexão argentina. No entanto, em janeiro de 2013, depois de seis meses de negociações secretas que incluíram reuniões de chanceleres na Etiópia, a Casa Rosada anunciou um acordo com o Irã para criar uma "comissão da verdade" conjunta para investigar o atentado.
A comunidade judaica e partidos da oposição criticaram o pacto, sustentando que implicaria em um retrocesso para as investigações. Além disso, acusaram o governo Kirchner de ignorar as decisões da Justiça em Buenos Aires.
Em fevereiro do ano passado a presidente Cristina conseguiu aprovar o acordo graças à maioria que possui no Parlamento. No entanto, apesar da aprovação do acordo pelo lado argentino, o Parlamento em Teerã nunca aprovou o pacto.
A Câmara Federal de Justiça em Buenos Aires declarou a inconstitucionalidade do acordo com o Irã. No entanto, esta decisão ainda precisa passar por outras instâncias judiciárias na Argentina.
A presidente Cristina Kirchner, pelo terceiro ano consecutivo, não participou das cerimônias . O chefe do gabinete de ministros, Jorge Capitanich, sustentou que a presidente Cristina não participou da cerimônia "porque hoje recebe o presidente da China que é um fato relevante na política internacional".