Cruz Vermelha critica ajuda "cínica"

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Os desastres naturais ou causados pela ação humana afetaram 256 milhões de pessoas em 2000. O número é 25% acima da média dos últimos dez anos e sete vezes superior aos efeitos de conflitos armados. Os desastres e seus efeitos, porém, não são conseqüência da vulnerabilidade física e geográfica dos países, mas da situação econômica das populações. A Cruz Vermelha divulgou seu relatório sobre desastres no mundo e chegou a uma assustadora conclusão: um desastre, como terremoto ou enchente, que mataria 20 pessoas em um país desenvolvido, geraria a morte de 1.052 pessoas em um país em desenvolvimento. Os dados são claros: do total de pessoas afetadas pelos desastres, 88% vivem nos países em desenvolvimento. "Não podemos dizer que tragédias naturais somente ocorrem nos países pobres. A diferença é que a situação econômica dos países ricos permite uma preparação da população para esses eventos", afirma Roger Brake, diretor da Divisão de Gestão de Desastres da Cruz Vermelha. Durante os últimos dez anos, quase 12% da população do Cambodja e 9% dos chineses sofreram com os desastres naturais. No Brasil, desde 1991 um milhão de pessoas foram vítimas de desastres. Enquanto isso, nos países desenvolvidos, a percentagem da população que é afetada por desastres não chega a 0,3% dos habitantes. Na Suécia, por exemplo, apenas 26 pessoas foram afetadas por desastres nos últimos dez anos. "Não adianta reconstruir apenas a infra-estrutura de um país, mas sim dar condições econômicas adequadas à população", afirma Brake. Segundo ele, apenas 10% dos projetos do Banco Mundial para a reconstrução de áreas afetadas por desastres incluem recuperação econômica. O resultado tem sido cada vez mais mortes nos países em desenvolvimento devido à vulnerabilidade econômica. "O dinheiro está sendo destinado para a reconstrução de pontes, não de vidas", diz Brake. Um exemplo é a situação da Venezuela após as enchentes que mataram 30 mil pessoas em 1999. Atualmente, 17% da população continua vivendo em locais de risco, e os que foram retirados na época das áreas de maior perigo não receberam ajuda financeira. O resultado é a volta dessa população aos locais de origem. "O que ocorre é a reconstrução do risco", afirma Brake. As conseqüências econômicas dos desastres também fazem parte das preocupações da Cruz Vermelha. Segundo a organização, os prejuízos dos governos chegam a US$ 304 bilhões por ano. A Cruz Vermelha ainda classificou de "cínica" a política de ajuda dos países doadores. Muitos condicionam o envio dos recursos à contratação de seus próprios técnicos, como é o caso da política de "ajuda" do Japão. Em Bangladesh, por exemplo, 60% dos recursos que entraram no país na década foram utilizados para pagar os serviços de consultores internacionais.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.