28 de outubro de 2012 | 03h06
Ao vestir a farda, o recruta americano "entrega todos os seus direitos civis e humanos para depois reconquistá-los, um a um, como privilégios". Como macete de controle, o esquema funciona. Tanto em Cuba quanto no quartel americano, a concessão acaba reafirmando a hierarquia. Quando é o governo, e não a Constituição, que garante (ou nega) os direitos, a nação é de súditos e não de cidadãos.
Mas como reforma, a aposta de Havana decepciona. Após meio século de solidão, a revolução precisa mudar para sobreviver. A ilha passa por franca decadência desde o fim da Guerra Fria, quando Moscou cortou de vez os subsídios polpudos para os satélites da órbita soviética.
O Estado cubano introduziu uma onda de reformas ousadas e o novo malabarismo retórico. Para salvar os trabalhadores, o governo anunciou o corte de até 1,5 milhão de funcionários estatais. Sai de cena o cartão de racionamento, que punha a mesa cubana, mas empobrecia as contas públicas. Entra o empreendedor socialista, oximoro que renovaria a revolução com lucro. Em contrapartida, o governo de Havana prometia soltar a rédea, facilitando a compra e venda de imóveis e permitindo que comerciantes informais legalizassem seus negócios. Quase dois anos depois, pouca coisa mudou.
Ajudará a mais nova rodada de afrouxamento? Ao permitir que os cubanos viajem sem necessidade de solicitar visto de saída e estender a mão aos exilados, Havana aposta que possa importar mais dinamismo à economia estagnada. Aí mora o perigo. Expatriados trazem talento e divisas, mas também ideias. Entre elas, a iniciativa particular e o empreendedorismo, ativos que não combinam com a tutela.
No Vietnã e até na China, uma nova geração de líderes comanda. Em Cuba, quem toca o barco é a mesma turma que há meio século desceu da Sierra Madre, só que hoje com artrite. Sua filosofia é a da revolução antiga, agora mais pobre e defensiva. É um passo para frente, um para trás. Como diria Che Guevara, há que flexibilizar, sem perder a dureza.
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