Cuba reprime marcha de dissidentes

Durante manifestação pacífica, partidários do governo ameaçam Damas de Branco, que são arrastadas pela polícia e forçadas a entrar em ônibus

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Por AP , AFP , Efe , Reuters e HAVANA
Atualização:

Uma manifestação das Damas de Branco, grupo de mães e mulheres de presos políticos cubanos, foi dissolvida ontem por forças de segurança do regime de Fidel e Raúl Castro. As cerca de 30 mulheres foram arrastadas pelos braços e cabelos por policiais, que as forçaram entrar em dois ônibus.Os veículos levaram as mulheres para a casa da líder do grupo, Laura Pollán, que qualificou a ação como um "sequestro". "Estou aqui chamando a atenção do mundo", disse Laura, que é casada com Héctor Maseda, preso em 19 de março de 2003 e condenado a 20 anos por "atentar contra a independência e a integridade territorial do Estado".Ela disse que foi arranhada e teve um dedo aparentemente fraturado. "Estamos em uma manifestação pacífica e não vamos entrar em um ônibus do governo que mantém detidos nossos parentes há sete anos."A marcha de ontem foi a terceira que o grupo realizou esta semana. A série de protestos tem como objetivo marcar o sétimo aniversário da primavera negra, ofensiva do regime contra a oposição iniciada em 18 de março de 2003, que resultou na prisão e condenação de 75 dissidentes.As mulheres assistiram a uma missa em uma igreja nos arredores da capital e pretendiam caminhar até a casa do opositor Orlando Fundora, que estaria em greve de fome há dias. No entanto, quando deixaram o local, cerca de 400 partidários do governo esperavam o grupo do lado de fora da igreja, gritando insultos e afirmando que "a rua é de Fidel".Bloqueio. Mulheres da Polícia Nacional Revolucionária e do Ministério do Interior fizeram um cordão de isolamento para separar os dois grupos. Depois, dois ônibus vazios chegaram para bloquear a rua e as mulheres foram obrigadas a entrar nos veículos. "Nos trouxeram diretamente para a casa de Laura Pollán, arrastadas, mas estamos todas aqui e continuaremos as marchas, a não ser que nos joguem na prisão", afirmou a integrante do grupo Bertha Soler. Segundo ela, o governo toma esse tipo de atitude por se sentir "encurralado".O confronto entre as dissidentes e forças do governo ocorre em um momento complicado, no qual o regime é duramente criticado pela má situação dos direitos humanos no país.Havana rejeita as críticas, afirmando que os dissidentes não passam de "mercenários a serviço dos EUA". O governo da ilha ainda afirma que as Damas de Branco fazem parte de uma "política subversiva" de Washington.O dissidente Guillermo Fariñas, que há três semanas faz greve de fome, criticou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que o líder brasileiro é "cúmplice" do regime cubano."Lula não respeitou a morte de Orlando Zapata", disse Fariñas em referência ao preso político cubano cuja morte - após passar 85 dias em greve de fome - coincidiu com a chegada do presidente brasileiro à ilha no fim do mês passado."A história se encarregará de colocar Lula em seu lugar." ResistênciaO grupo das Damas de Branco surgiu em abril de 2003, depois que seus filhos e maridos foram presos em uma ofensiva do governo cubano contra os dissidentes políticos.

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