Cubanos a caminho dos EUA pedem exceção após fim de política migratória

Migrantes que estavam cruzando a América Central são surpreendidos pelo fim da política ‘pé seco, pé molhado’ e ficam retidos em fronteiras

PUBLICIDADE

Atualização:

CIDADE DO MÉXICO - O cubano José Enrique Manreza, que vendeu sua casa e seus pertences para iniciar uma jornada de avião, ônibus e a pé em busca do sonho americano está agora preso na fronteira mexicana após Washington anunciar o fim da política ‘pé seco, pé molhado’ – que garantia residência aos cubanos que conseguissem pisar em território americano, mesmo sem visto. 

No Panamá, imigrantes cubanos não sabem se conseguirão chegar aos EUA Foto: AP Photo/Arnulfo Franco

PUBLICIDADE

O fim da prática teve efeito imediato. “Imagine como me sinto, após passar seis dias e seis noites atravessando rios e selvas, na umidade”, disse Manreza em um abrigo de imigrantes na cidade de Tapachula, sul do México, onde soube da notícia junto com outros 30 cubanos. 

Manreza estima ter gasto cerca de US$ 10 mil em sua viagem, incluindo um voo para a Guiana Francesa, guias pela América do Sul e subornos para evitar que agressores abusassem de sua filha. “Eu tive de dar a eles muito dinheiro e agora acontece isso”, disse Manreza, que gerenciava um armazém de bebidas em Havana antes de deixar Cuba em dezembro. Ele está decidindo se volta para seu país, falido, ou se pede asilo ao México. 

A situação é a mesma de dezenas de outros cubanos que estão em um albergue no Panamá para decidir as próximas etapas de sua rota para os Estados Unidos. Num calor sufocante, eles manifestaram sua frustração e indignação com a medida. “Não vou voltar”, afirmou à agência France Presse Yadiel Cruz, de 33 anos, que deixou Cuba em 6 de dezembro.

Enquanto as três crianças brincam do lado de fora da casa, sede da Caritas, que também abriga 36 mulheres e 18 homens, os cubanos discutem o que fazer. “Sentimo-nos tristes, pois todos viemos atrás de um sonho que nos custou muita dor, fome e trabalho duro”, lamenta Lorena Peña, grávida de quatro meses, que abandonou Cuba com seu marido e a filha de 4 anos.

As autoridades panamenhas deixavam os migrantes seguir seu trajeto, apesar da entrada irregular no país. Após a decisão, o governo anunciou que eles não poderão ficar no Panamá. 

Agora, os cubanos pedem aos EUA que façam uma exceção aos que deixaram a ilha antes do anúncio do fim da política e estão cruzando a América Central. “Pedimos apenas que façam uma exceção, que nos deixem seguir, que não apliquem essa medida imediatamente e nos deem um prazo para chegar aos EUA”, afirma Yancys Ricars, que deixou Cuba em dezembro.

Publicidade

Temendo justamente a revogação da medida que beneficiava os cubanos, muitos migrantes deixaram a ilha para entrar nos EUA desde a normalização das relações entre Havana e Washington, em 2014. Em 2015, cerca de 25 mil cubanos ilegais passaram pela América Central e, em 2016, milhares deles se reuniram na Costa Rica e no Panamá. / AFP, AP e REUTERS 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.