Cubanos ainda aguardam libertação

Primeiros 5 dissidentes que seriam soltos não receberam sinal verde do governo; Fariñas alimenta-se, mas continua em estado ''grave''

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O governo cubano não tinha cumprido até ontem a promessa de soltar os primeiros 5 dissidentes, passo inicial do acordo alcançado na quarta-feira, sob mediação da Igreja e do governo espanhol, que prevê a libertação de 52 presos de consciência na ilha. Ontem à noite, parentes dos opositores já estavam prontos para recebê-los antes de ser enviados para a Espanha e aguardavam somente o sinal verde de Raúl Castro.Se levada adiante, essa será a maior libertação de dissidentes cubanos desde 1998, quando 299 foram soltos após uma visita do papa João Paulo II a Cuba. Os opositores beneficiados foram presos em 2003 na repressão conhecida como "Primavera Negra", na qual 75 foram detidos sob acusação de conspirar com os EUA.O arcebispo de Havana, Jaime Ortega, um dos principais articuladores do acordo, tinha sido informado pelo governo cubano na quarta-feira que os cinco primeiros dissidentes seriam soltos nas horas seguintes. Outros 47 opositores deveriam ser liberados para partir para o exílio ao longo de quatro meses, segundo promessa de Havana.Dissidentes e parentes dos presos que deveriam ser soltos reclamavam ontem da demora. "Não consigo dormir à noite, entre a espera e as preocupações. Meu marido me telefonou e disse que há uma situação de incerteza. Talvez nos deem uma surpresa nas próximas horas", afirmou Oleydis García, mulher de Pablo Pacheco, dissidente condenado a 20 anos de prisão que está na lista dos 5 a serem enviados para a Espanha "em breve". "Já estou com tudo pronto (para que ele viaje): duas mudas de roupa e fotos da família."Lisandra Laffita, mulher do dissidente Luis Milán, condenado a 13 anos de prisão, também temia que o acordo fracassasse na última hora. "Agentes da Segurança do Estado só me disseram para manter a calma. Não me informaram em que momento (ele será solto), se virá para casa ou se devemos encontrá-lo no aeroporto", disse Lisandra.Fariñas. Em resposta ao recuo do regime cubano, o dissidente Guillermo Fariñas encerrou na quinta-feira a greve de fome que mantinha havia 135 dias. Ontem, ele ainda corria "grave risco de morte", segundo seu médico pessoal, Ismely Iglesias, mas começou a se alimentar com líquidos e gelatina.O médico de Fariñas afirma que um coágulo na região da jugular do dissidente ainda preocupa. Internado em um hospital da cidade de Santa Clara, o opositor promete retomar a greve de fome, caso os 52 presos não sejam soltos.Em declarações à Radio Nacional España, Fariñas confessou ter sido "surpreendido" pelo anúncio das libertações e disse que agora "é preciso dar uma margem de credibilidade ao governo".Países da América Latina, além de EUA e União Europeia (UE), comemoraram o anúncio do acordo, feito quando o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, visitava Havana. Ontem, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também elogiou o anúncio e pediu novos gestos que demonstrem que o regime cubano está disposto a melhorar a questão dos direitos humanos na ilha. A libertação gradual de 52 prisioneiros políticos - alguns deles jornalistas - "marca um avanço positivo, mas não deve ocultar a trágica realidade dos direitos humanos em Cuba", alertou o RSF.

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