HAVANA - A presença de um presidente dos Estados Unidos em solo cubano era uma cena inimaginável para a maioria dos moradores da ilha, incluindo jovens como Gabriela Castañeda, de 19 anos. Ontem, ela tinha a sensação de fazer parte da história, enquanto esperava que o comboio do presidente Barack Obama atravessasse a Avenida Paseo a caminho do Estádio Latino-Americano, onde o time nacional de beisebol de Cuba enfrentou a equipe Tampa Bays da Flórida.
“Nunca pensei que isso aconteceria”, disse Gabriela, segurando o celular na esperança de registrar a passagem de Obama. Agora, ela deseja que a política de reaproximação iniciada pelo líder democrata não seja ameaçada pela posse de um novo presidente americano em janeiro de 2017.
A poucos quilômetros da Avenida Paseo, o casal Dianei Dias Carbonel e Amauri Wanegas assistiu ao discurso de Obama pela TV juntamente com dois de seus cinco filhos. “Aleluia!”, exclamou ela, quando o presidente disse que estendia ao povo cubano uma “saudação de paz”.
O casal vive em um albergue do Estado, onde o banheiro é comunitário e as casas têm apenas um cômodo que faz as vezes de quarto, sala e cozinha. O pé direito alto foi divido para criação de mais um cômodo, conectado com o térreo por uma escada de madeira.
Wanegas sustenta a família com cerca de US$ 80 que ganha a cada mês trabalhando como pintor - ele desempenhava a mesma função em uma organização estatal até quatro anos atrás, mas o salário era muito baixo. Mesmo dizendo que a vida é difícil e quase tudo o que ganha é gasto em comida, Wanegas elogia a saúde pública cubana e os subsídios do governo à alimentação. “Em Cuba, ninguém passa fome”, afirmou.
Sua expectativa é que a reaproximação com os Estados Unidos amplie as oportunidades econômicas na ilha. “Obama está pensando no futuro de nossos filhos. É o melhor presidente dos Estados Unidos. Todos os outros só queriam fazer mal a Cuba.”
Carisma. Mesmo históricos comunistas que desconfiam das intenções do americano afirmavam que ele teve “coragem” e “ousadia” ao mudar a relação bilateral. “Ele tem um tremendo carisma”, disse Daniel Palmaz, de 78 anos, que combateu ao lado de Raúl Castro na Revolução Cubana, de 1959.
Uma professora que preferiu identificar-se apenas pelo primeiro nome, Evelin, disse estar “maravilhada” com Obama. Admiradora de Fidel Castro, Evelin usava óculos escuros com armações decoradas com símbolos da bandeira dos EUA. Mas, segundo ela, a reaproximação não pode levar a ingerência em problemas internos da ilha. “Queremos que respeitem Cuba. Os problemas que temos só nós podemos resolver.”