Cubanos lamentam retrocesso nas relações com EUA no governo Trump
População alega que anúncio do republicano é ‘um passo para trás na aproximação’ que ocorreu durante a gestão de Barack Obama
Por Redação
Atualização:
HAVANA - Os cubanos lamentaram nesta sexta-feira, 16, o retorno a uma era mais fria nas relações com os EUA depois de saberem do anúncio do presidente Donald Trump sobre um endurecimento nas normas para viagens e negócios na ilha, revertendo parte de uma distensão histórica realizada pelo governo anterior.
O republicano anunciou um plano para reforçar as exigências para viagens de americanos a Cuba e restringir os negócios que as empresas de seu país podem fazer com empresas cubanas controladas pelos militares da ilha.
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"Dói-me que voltemos atrás. Dar um passo para trás na aproximação que tivemos com Obama só serve para nos afastar do mundo", disse Marta Deus.
Ela abriu recentemente uma empresa de contabilidade e um serviço de remessas para atender a um setor privado que vem florescendo nos últimos dois anos e meio, na esteira de um acordo entre Barack Obama e o mandatário cubano, Raúl Castro, para normalizar as relações entre os antigos inimigos da Guerra Fria.
"Precisamos de clientes, turistas, que a economia ande, e com o isolamento de Cuba só se tem um impacto negativo em muitas famílias cubanas (e) o fechamento de negócios", disse Marta.
O acordo entre Obama e Raúl, estabelecido em dezembro de 2014, criou euforia em Cuba, que esperava uma melhora em sua frágil economia. Um aumento de visitas de turistas americanos deu ímpeto ao setor, especialmente em Havana, criando mais acomodações, restaurantes, táxis e serviços de guias no incipiente setor privado. Mas os críticos argumentam que a distensão não melhorou o nível dos direitos humanos no país.
Os acordos entre EUA e Cuba desde a retomada das relações diplomáticas
1 / 13Os acordos entre EUA e Cuba desde a retomada das relações diplomáticas
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EUA aprovam a construção de umafábrica americana em Cuba. A permissão foi concedida pela administração Obama à empresa Cleber LLC, formada por dois ex... Foto: ReutersMais
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05 de maio de 2015 - Ferry
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20 julho de 2015 - Embaixada nos EUA
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28 de julho de 2015 - Tráfico de pessoas
EUA retiram Cuba de sua lista depaíses que não fazem o suficiente para combater o tráfico de pessoas, mas mantiveram a Venezuela no grupo, que ainda i... Foto: NYTMais
14 de agosto de 2015 - Embaixada em Cuba
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11 de dezembro de 2015 - Correspondência
Os governos de Cuba e EUA decidemreestabelecer o serviço postal entre os dois países. Com a medida, o envio de cartas e encomendas entre Washington e ... Foto: Ramon Espinosa/APMais
16 de fevereiro de 2016 - Voos diretos
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24 de fevereiro de 2016 - Ativistas
O governo cubano deupermissão para que renomados ativistas façam, cada um, uma viagem internacional e depois voltemà ilha. A autorização foi dada para... Foto: AP/Desmond BoylanMais
14 de março de 2016 - Turistas
Permissão douso do dólar em transações de Cuba. EUA dão sinal verde para transações em dólares entre a ilha e terceiras nações e praticamente eliminar... Foto: EFE/Rolando PujolMais
16 de março de 2016 - Postagem
Voo inaugural do restabelecido serviço de correio postal diretoentre Cuba e EUA chega a Havana procedente de Miami (Flórida) Foto: Reuters
As autoridades cubanas intensificaram as detenções de ativistas e têm confiscado celulares e laptops com frequência. "Quando a administração Obama deixou de condenar as violações de direitos humanos em Cuba (...), o regime disse a si mesmo: continuamos e não acontece nada, por isso vamos continuar reprimindo com mais força", disse José Daniel Ferrer, que lidera a União Patriótica, maior grupo dissidente cubano.
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Outros dissidentes afirmaram que retroceder na distensão acabará por prejudicar os cubanos. "Provavelmente (suas medidas) não terão nenhum benefício em termos de direitos humanos", destacou Eliécer Ávila, líder do grupo opositor Somos Más.
"Indubitavelmente (estas medidas) irão afetar Cuba, mas nem por isso irão afundar Cuba. Irão afetar bastante o setor privado, muito mais que o governo cubano", disse Carlos Alzugaray, um diplomata cubano aposentado. / REUTERS