Culpar doentes mentais por ataques desvia atenção de problema principal, diz especialista
Para professor de Psiquiatria da Wayne State University (Michigan), discursos políticos prejudicam quem sofre com a doença
Entrevista com
Arash Javanbakht
Entrevista com
Arash Javanbakht
05 de agosto de 2019 | 22h07
Ao culpar pessoas com problemas mentais por ataques a tiros em massa nos EUA, o presidente Donald Trump e outros políticos que recorrem a esse argumento desviam o foco para questões mais importantes, como o maior controle no acesso às armas. A avaliação é do professor de Psiquiatria da Wayne State University (Michigan) Arash Javanbakht, em entrevista ao Estado. Javanbakht também é diretor da Clínica de Pesquisa sobre Estresse, Trauma e Ansiedade (Starc, na sigla em inglês). Segundo um estudo de 2015, 4% das mortes por armas de fogo nos EUA são atribuídos a distúrbios mentais.
A expressão doença mental é um grande guarda-chuvas que pode ser vagamente usado como bode expiatório para evitar questões mais importantes e sérias, como, nesse caso, armas. Essa também é uma área na qual as pessoas não defendidas por legisladores ou tem seus interesses protegidos por lobistas. Como resultado, doença mental, em um conceito amplo, pode ser usado como um desvio de questões importantes, ao mesmo tempo em que essa tática tem um impacto negativo ao estigma.
Concordo que seja uma contradição. Se alguém diz que um ato criminoso foi causado por uma severa doença mental, é altamente provável que a responsabilidade seja retirada dessa pessoa que cometeu o ato sob influência da doença. Mas se a pessoa que cometeu o crime tem uma doença mental que não é relevante a esse crime (por exemplo, uma depressão leve), então não se pode afirmar que a depressão tenha causado aquela atitude. É um tema muito complexo.
Como escrevi em um artigo recentemente, quando o termo 'doença mental' é tão gamente usado em debates sobre armas, aqueles que sofrem com ela e não oferecem um risco de violência ou prejuízo de julgamento (como ansiedade ou fobia) temem procurar por um tratamento. Eu tenho tido regularmente pacidentes que se preocupam que seu diagnóstico de depressão ou ansiedade, embora bem tratado, possa ser usado contra eles em tribunais em questões como, por exemplo, ligadas à custódia de filhos. Tenho repetidamente explicado a eles que essa desordem não fornece justificativas para prejudicar um julgamento.
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