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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Cultivando a imagem

Ao insistir que foi roubado, Trump busca manter imagem de infalível que atrai seguidores

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Atualização:

Quais os objetivos do presidente Donald Trump e de grande parte dos republicanos ao adiar a aceitação em público da vitória de Joe Biden

Biden obteve 306 votos no colégio eleitoral - o mesmo que Trump em 2016 -, contra 232 para o presidente. Para conquistar os 270 votos necessários, Trump precisaria reverter 38. Seus advogados entraram com ações na Pensilvânia (20 votos no colégio eleitoral), Wisconsin (10), Michigan (16), Arizona (11) e Nevada (6). A Geórgia (16) está recontando os votos, como requer a lei do Estado, em caso de diferença abaixo de 0,5 ponto porcentual. A Justiça recusou as ações na Pensilvânia, Michigan e Arizona.

Nas redes sociais, comentário foi sobre o cabelo de Trump Foto: EFE/EPA/Chris Kleponis

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A vantagem de Biden na Geórgia é de 14.149 votos; no Wisconsin, 20,546; em Nevada, 35.453. Nos últimos 50 anos, nenhuma recontagem mudou o resultado de milhares de votos. Em 2000, na Flórida, George W. Bush havia ganhado por 1.784 votos. Depois da recontagem, pedida por Al Gore, a diferença caiu para 537. 

A Agência de Cibersegurança e Segurança de Infraestrutura do Departamento de Segurança Interna (órgão do governo Trump) declarou na quinta-feira que “essas foram as eleições mais seguras da história”. Dois diretores da agência foram demitidos. Os governos estaduais - republicanos e democratas - também endossaram os resultados.

Trump está falido, revelaram repórteres do jornal The New York Times que obtiveram suas declarações de imposto de renda. Ele deve US$ 421 milhões. Mais de US$ 300 milhões vencem nos próximos quatro anos. As empresas que servem de garantia para os empréstimos - campos de golfe, hotéis e cassinos - já davam prejuízo antes da pandemia, que as atingiu em cheio. 

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Seus negócios geraram mais de US$ 2 bilhões de prejuízos nos últimos 30 anos. Em 2018, seu dinheiro em caixa, US$ 34,7 milhões, representava 40% menos do que cinco anos antes. Ele vendeu US$ 54 milhões em ações e títulos em 2015 e US$ 68 milhões em 2016. Restavam-lhe US$ 873 mil em julho.

O presidente enfrenta muitas ações na Justiça. Outras virão. Ele estuda três opções de indulto presidencial preventivo: a si mesmo; a renúncia e o perdão do vice Mike Pence; ou aprovado pela maioria republicana no Senado. Em 1974, Gerald Ford concedeu a Richard Nixon indulto por quaisquer crimes dos quais ele viesse a ser acusado. A Constituição não prevê autoindulto, muito menos preventivo. Mas o que a Constituição não proíbe, em tese o presidente poderia fazer.

Em seu primeiro pronunciamento depois da noite da eleição, Trump abriu na sexta-feira uma brecha na porta dos fundos da Casa Branca: “O que quer que aconteça no futuro, quem sabe qual administração será. O tempo dirá. Mas posso lhes dizer que esta administração não irá a um lockdown.”

Com o discurso de que foi roubado, ele mantém a imagem de infalível, invencível, que compõe a adesão de seus seguidores a ele. Trump obteve 73 milhões de votos. Segundo pesquisa do Morning Consult para o site Politico, 70% dos republicanos acreditam na tese da fraude. Antes da eleição, eram 35%. Pesquisa Ipsos para a Reuters mostrou que 51% dos republicanos apoiariam a recusa de Trump em aceitar a derrota.

Ele é mau gestor de negócios e bom gestor de marca. Sua declaração de imposto de renda mostra que ele faturou US$ 427 milhões com a licença de sua marca associada ao programa O Aprendiz. 

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Trump pode agora lucrar com um novo canal de TV e com a venda de ingressos para seus comícios. Daí a importância de manter acesa a chama da candidatura em 2024.

A maioria dos republicanos no Senado depende das duas vagas em disputa no segundo turno da eleição na Geórgia, dia 5 de janeiro. A Câmara e um terço do Senado têm eleições em 2022. Os republicanos precisam escolher entre o dano à sua imagem pela recusa à alternância de poder e o preço eleitoral de um conflito com os trumpistas.

É COLUNISTA DO ‘ESTADÃO’ E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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