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Cúpula expõe divisão na Unasul

Reunião para debater acordo militar EUA-Colômbia é marcada por insultos e poucos avanços na segurança regional

Por Denise Chrispim Marin , Ariel Palacios , BARILOCHE e ARGENTINA
Atualização:

A reunião de cúpula da União de Nações Sul-americanas (Unasul) realizada ontem, em Bariloche, acentuou a divisão da região em torno do acordo EUA-Colômbia, que prevê a presença de forças militares americanas em sete bases colombianas por dez anos. O encontro durou 7 horas e foi marcado pelas trocas de insultos e acusações. Ao final, os países conseguiram chegar a um acordo que trata com termos vagos os temas mais sensíveis relacionados à segurança regional e tenta traçar uma estratégia para recuperar a confiança mútua. O presidente colombiano, Álvaro Uribe, não apresentou aos outros líderes da região a esperada garantia jurídica de que as ações militares dos EUA não se estenderão aos territórios dos países vizinhos. Tampouco apresentou com clareza os termos do acordo. Uribe tornou-se alvo de ataques da Venezuela, do Equador e da Bolívia, que rechaçam o acordo com os EUA, mas conseguiu incluir no documento final do encontro um repúdio à ação de grupos armados na região e o "compromisso de fortalecer a luta e a cooperação contra o terrorismo, a delinquência transnacional organizada e delitos conexos: o narcotráfico e o tráfico de armas"(mais informações na página 23). Durante os debates, o Peru manteve seu alinhamento com a Colômbia - embora tenha feito algumas ressalvas. O Brasil, a Argentina, o Chile, o Paraguai e o Uruguai tentaram amenizar os atritos, numa tentativa de preservar o processo de integração da Unasul. Chamados ao resgate da confiança nesse processo fizeram parte de quase todos os discursos dos líderes da região. Mas o que se verificou foi justamente o "rompimento da confiança entre alguns membros da Unasul", como resumiu a presidente argentina, Cristina Kirchner. Antes mesmo do encontro terminar, o presidente peruano, Alan García, e o uruguaio, Tabaré Vázquez, voltaram para casa, alegando ter compromissos em seus países. Depois das sete horas de discussão, os presidentes que ainda estavam na reunião, apressados, começaram a improvisada leitura do documento final da cúpula da Unasul. Muitos quiseram corrigir o texto enquanto ele era lido pelo presidente equatoriano, Rafael Correa. DOCUMENTO VAGO O texto do acordo é suficientemente amplo para agregar as diferenças manifestadas por Uribe, de um lado, Chávez, Correa e o boliviano Evo Morales, de outro. A única passagem que faz referência ao acordo militar entre os Estados Unidos e a Colômbia é a que diz que "a presença das forças militares estrangeiras não pode ameaçar a soberania e a integridade de qualquer nação sul-americana e, em consequência, a paz e a segurança na região". No documento, os integrantes da Unasul instruem o Conselho de Defesa da entidade a desenhar medidas para fomentar a confiança, a segurança e as garantias em uma reunião entre chanceleres e ministros da Defesa que ocorrerá na segunda quinzena de setembro. Ele também ressalta o "fortalecimento da América do Sul como zona de paz" e sustenta a decisão dos países de absterem-se de "recorrer às ameaças ou ao uso da força contra a integridade territorial de outro Estado da Unasul". Segundo García, o texto não tem "nem pé nem cabeça e não será entendido em nenhum lugar do mundo".

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