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Dados de celular revelam laços de Bin Laden com inteligência paquistanesa

De acordo com 'The New York Times', mensageiro do líder da Al-Qaeda manteve contado com chefe de grupo radical do Paquistão que teria estreitos vínculos com agentes de Islamabad - num indício de que saudita recebeu proteção governamental

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

O telefone celular do principal mensageiro do saudita Osama bin Laden acentuou as suspeitas das autoridades dos EUA de que o líder máximo da Al-Qaeda tivesse recebido proteção do serviço de inteligência do Paquistão.De acordo com The New York Times, o rastreamento das chamadas permitiu apontar o grupo extremista paquistanês Harakat-ul-Mujahedeen como participante da rede de apoio de Bin Laden, que vivia desde 2006 numa casa amuralhada na cidade paquistanesa de Abbottabad, até ser morto durante numa operação de comandos dos EUA, em 1.º de maio. O celular fora apreendido depois da execução de Bin Laden e abriu "uma avenida" para as investigações dos EUA sobre como o líder da Al-Qaeda se escondeu no Paquistão por, pelo menos, cinco anos. Segundo a reportagem, o grupo Harakat-ul-Mujahedeen mantém laços fortes tanto com a Al-Qaeda quanto com a agência paquistanesa de inteligência (ISI, na sigla em inglês). Em entrevista à BBC, ontem, um porta-voz desse grupo negou ter havido contatos com a organização de Bin Laden. "A Al-Qaeda tem sua própria disciplina, seu próprio pensamento, sua própria organização. Nunca estivemos em contato com Osama", informou.Segundo o New York Times, o líder do grupo paquistanês, o clérigo Fazlur Rehman Khalil, foi coautor da ordem de Bin Laden de ataque às embaixadas americanas na África, em 1998, e levou jornalistas para entrevistar o chefe da Al-Qaeda antes do atentado de 11 de setembro de 2001. Khalil foi descrito como um líder sem problemas com as autoridades de seu país. Ele teria ainda permitido, no final dos anos 90, o acesso de subordinados de Bin Laden a seus campos de treinamento no Paquistão e enviado combatentes para a Al-Qaeda no Afeganistão.Mais recentemente, a rede de conexões de Khalil facilitou a transmissão de instruções de Bin Laden para os membros da Al-Qaeda no Paquistão. De acordo com especialistas do governo americano, o Harakat-ul-Mujahedeen seria um dos principais instrumentos do ISI. Nos anos 80 e 90, ambos haviam atuado em parceiras em duas frentes - no combate aos soviéticos, no Afeganistão, e no território da Caxemira, disputado por Paquistão e Índia.Dois ex-comandantes da Harakat-ul-Mujahedeen e um experiente combatente afirmaram ao New York Times que o ISI teria participado ativamente na proteção de Bin Laden no Paquistão. Conforme relataram, o líder da Al-Qaeda teria se movido continuamente na região montanhosa do Paquistão depois dos ataques de aviões americanos não tripulados à região de Waziristão do Norte, onde antes se escondeu até 2004.Como a Agência Central de Inteligência (CIA) mantinha poucos espiões no Paquistão, Bin Laden teria sido se instalado em uma cidade - não se sabe se já seria Abbottabad - sob a proteção do ISI.Outro grupo paquistanês pode ter auxiliado Bin Laden e a Al-Qaeda. O Harakat-ul-Jihad-al-Islami, comandado por Qari Saifullah Akhtar, igualmente tem estreita ligação com o ISI, apesar de ser procurado por sua vinculação ao atentado que matou a ex-primeira-ministra do Paquistão Benazir Bhutto, em dezembro de 2007. Um relatório do Ministério do Interior paquistanês registra uma visita de Akhtar a Bin Laden na fronteira com o Afeganistão para a discussão de operações terroristas, conforme o jornal The Daily Times.Marca. Em uma carta também encontrada na sua fortaleza de Abbotabad, Bin Laden mostrou-se preocupado com a melhora da imagem da Al-Qaeda e cogitou da mudança de seu nome. Duas opções foram apontadas, ambas de pronúncia muito mais difícil para os ocidentais: Taifat al-Tawhed Wal-Jihad (Monoteísmo e Grupo de Guerra Santa) e Jamaat Adat al-Khilafat al-Rashida (Restauração do Grupo Califado). O nome original da organização terrorista é Al-Qaeda Al-Jihad (A Base da Guerra Santa). Na carta, Bin Laden estava aborrecido com o fato de a denominação costumeira da Al-Qaeda havia excluído o seu componente ideológico mais profundo, a Guerra Santa. PARA LEMBRARAção militar matou saudita Osama bin Laden foi assassinado em 1.º de maio, em uma operação militar americana na cidade de Abbottabad, no Paquistão. A ação durou 40 minutos e só foi informada às autoridades paquistanesas depois de concluída. A operação resultou de informações obtidas desde 2007, principalmente de presos de Guantánamo, que denunciaram a existência de um mensageiro de Bin Laden. Depois de anos de tentativas frustradas, agentes americanos conseguiram localizá-lo, em agosto. A invasão da fortaleza foi comandada por Leon Panetta, diretor da CIA. Levado para o porta-aviões USS Carl Vinson, o corpo de Bin Laden teria sido lançado ao mar, após exame de DNA confirmar a identidade do terrorista.

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