De olho em reeleição, Macron reformula gabinete para fortalecer presidência

Presidente francês anunciou saída do primeiro-ministro Édouard Philippe; em seu lugar entra Jean Castex, responsável pela reabertura econômica da França

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Por Redação
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PARIS - Com o objetivo de reforçar sua presidência após a pandemia do novo coronavírus, o presidente Emmanuel Macron, da França, trocou nesta sexta-feira, 3, o primeiro-ministro de seu governo, Édouard Philippe. Ele deu lugar a Jean Castex, um político pouco conhecido até abril, quando passou a formular a estratégia da França para superar a pandemia. Nos círculos políticos e na imprensa francesa, Castex, de 55 anos, tem sido chamado de 'senhor desconfinamento'. 

Macron afirmou que um dos desafios do novo ministro é o de colocar em marcha uma nova fase do governo em um projeto de reconstrução social, econômica, ambiental e local. O Banco da França estima que o desemprego chegará a 10% no final do ano e 11,5% em meados do próximo ano. Aos 55 anos, Castex é próximo do ex-presidente Nicolas Sarkozy (2007-2012), do qual foi secretário de governo, e é prefeito de Prades, uma pequena cidade nos Pirineus. Foi ele o responsável pela estratégia bem-sucedida de desconfinamento de 67 milhões de pessoas na segunda maior economia europeia. 

O presidente Emmanuel Macron e Jean Castex, o novo primeiro-ministro da França Foto: Ludovic MARIN / POOL / AFP

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Seu perfil é considerado o de um especialista, mas com bagagem política, atendendo duas demandas do momento pós-pandemia. Enfrentando uma crise econômica provocada pelo vírus e um crescimento no apoio aos partidos verdes nas votações locais no domingo passado, Macron optou por se separar do membro mais popular de seu governo. A mudança ficou ainda mais latente devido às derrotas do partido de Macron - En Marche - em cidades importantes. O partido foi derrotado em Paris, Marselha, Bordeaux, Lyon, Grenoble e Estrasburgo, entre outras.  

Com os olhos em 2022, o mandatário precisa 'tingir de verde' sua equipe, já que os ecologistas foram os que mais avançaram nas disputas municipais, com importantes cidades. A mudança, no entanto, é arriscada: Philippe foi o único líder político francês a sair da emergência de saúde com mais credibilidade. Com a decisão, Macron sinaliza que olha para o futuro, mas se opõe à opinião pública: quase 60% dos franceses sinalizaram que Philippe deveria ter sido mantido em seu cargo. 

Tradição

Substituir primeiros-ministros é uma tradição para os presidentes franceses modernos que desejam obter um novo impulso. Macron tem ainda dois anos para finalizar seu difícil mandato de cinco anos, marcado por distúrbios sociais, algum progresso econômico e agora uma perspectiva de negócios instável. Durante semanas, especulações sobre o destino de Philippe - que durou um período extraordinariamente longo para um primeiro ministro francês - circularam  na mídia e nos círculos políticos. Ele foi reeleito no domingo prefeito do porto Le Havre, no norte do país. 

Desde o início do governo Macron, 17 ministros já deixaram os cargos. A mais recente foi Agnès Buzyn, que saiu da pasta da saúde em uma tentativa frustrada de disputar a prefeitura de Paris. Esperava-se que Macron reformulasse seu gabinete em uma tentativa de iniciar uma nova fase depois que a pandemia de coronavírus atingiu a França. O país ainda lida com as conseqüências de uma doença que levou a quase 30 mil mortes no país e com a avaliação de que se saiu pior do que a Alemanha, mas consideravelmente melhor do que alguns de seus vizinhos.

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Ao contrário de muitos de seus vizinhos europeus, a França tem um sistema de governo no qual o presidente, eleito diretamente pelo povo francês, é o chefe do poder executivo e geralmente é o principal político. O primeiro-ministro e o gabinete são responsáveis perante o Parlamento, mas são nomeados pelo presidente e responsáveis pelas tarefas de governo diariamente. 

Em entrevista na quinta, Macron elogiou Philippe por ajudá-lo a realizar "importantes reformas históricas em circunstâncias que muitas vezes eram muito difíceis" e disse que eles tinham uma "relação de confiança" especial. / Com informações do NYT e AFP 

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