De olho em sucessão de Mubarak, Egito faz eleições parlamentares

Divisão em partido de governo e de oposição marcam pleito de domingo.

PUBLICIDADE

Por Tariq Saleh
Atualização:

Líder egípcio deve indicar filho para sua sucessão Os egípcios vão às urnas neste domingo para eleger os membros do Parlamento, em um pleito marcado por divisões tanto no partido do governo como na oposição. A eleição também é vista como um passo importante na definição de um sucessor para o presidente Hosni Mubarak, no poder há quase três décadas. Mubarak, de 82 anos, está com problemas de saúde e ainda não confirmou se será candidato a um sexto mandato na eleição presidencial de 2011. Analistas dizem que ele pode permitir que seu filho, Gamal Mubarak, seja o seu sucessor no comando do Partido Nacional Democrático (PND), o maior partido do país. Neste ano, 5.181 candidatos disputam 508 das 518 cadeiras do Parlamento egípcio, sendo que 64 assentos são reservados por lei para mulheres. Os titulares dos outros dez assentos são indicadas por decreto presidencial. Jornais independentes no país apostam em um enfraquecimento da oposição, que, acredita-se, deverá perder cadeiras no Parlamento pelo fato de estar dividida sobre a participação ou não do pleito de domingo. Na eleição anterior, o principal grupo opositor, a Irmandade Muçulmana, elegeu 88 deputados, mais de um quinto do total, um número considerado surpreendente no país que havia décadas vinha sendo controlado e dominado pelo partido de Mubarak. Mas alguns jornais egípcios sugeriram que membros da Irmandade Muçulmana aderiram ao boicote convocado por grupos da oposição, que questionam a lisura do processo eleitoral. Entre estes grupos está a Associação Nacional para Mudança, criada pelo Nobel da Paz, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica e possível candidato presidencial em 2011 Mohamed ElBaradei. Para o grupo de ElBaradei, não há "garantias que previnam a fraude" nesta eleição. Outro partido que está boicotando a eleição é o Al-Ghad, dirigido pelo líder oposicionista Ayman Nour, que chegou em um distante segundo lugar na eleição presidencial de 2005 e depois foi preso - supostamente, por fraude. Os principais partidos de oposição que participam desta eleição são o liberal Novo Al-Wafd, o esquerdista Partido Nacional Unionista Progressivo e o Partido Socialista Nasserista. Divisões no poder Analistas também apontam para divisões dentro do PND, que podem ter um papel importante no futuro político do país. Pela primeira vez, o partido apresentou mais de um candidato em várias seções eleitorais e acabou desistindo de realizar uma convenção nacional - o que muitos viram como um sinal de que o PND queria evitar a exposição pública dessa divisão, entre a velha e a nova guarda do partido. A nova guarda seria liderada por Gamal Mubarak, que defende uma liberalização da economia do país e conta com apoio do empresariado. "Ele deve acelerar mudanças e impulsionar no Egito uma política econômica mais liberal que a de seu pai, mais orientada por políticas sociais", disse o analista independente Yehia Gaman. Do outro lado está a velha guarda, segundo Gamal, formada por forças "acostumados ao poder e ao atual sistema", como os militares, que temem uma redução de seu orçamento para permitir mais investimentos do governo em outros setores. Muita gente no Egito, entretanto, acredita que na raiz da divisão no PND estaria um braço-de-ferro originado na família do presidente, entre aqueles que querem que Gamal Mubarak suceda seu pai, concorrendo à eleição em 2010 ou após uma desistência de Hosni Mubarak, e aqueles que não acreditam que Gamal seja um sucessor à altura do atual presidente - entre estes estaria o próprio pai de Gamal, Hosni. Ceticismo nas ruas Nas ruas do Cairo, o clima é de apatia. Para muitos, a eleição deste ano deve trazer poucas mudanças substanciais. Historicamente, a participação dos egípcios em pleitos é pequena. Na eleições parlamentares de 2005, apenas 9% dos eleitores compareceram às urnas. "Muitos egípcios acham que as eleições não importam muito", disse à BBC Brasil Ziad Moussa, cientista político do Centro Al-Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos do Cairo. Para ele, os egípcios acreditam que as eleições apenas "consolidarão a posição de velhos conhecidos políticos, que compram votos distribuindo comida, dinheiro e promessas". "O regime vai continuar, independente de eleições", completou. A apatia também se explica pela reputação do processo eleitoral egípcio, manchada por acusações de falta de transparência e intimidação de candidatos e partidos de oposição. Na semana passada, o governo prendeu - e depois soltou - centenas de opositores. A Irmandade Muçulmana alega que cerca de 1,2 mil de seus membros, incluindo oito candidatos ao Parlamento, foram detidos. O Egito rejeitou o envio de observadores internacionais para supervisionar a eleição de domingo. "Nós temos a capacidade de supervisionar as eleições. A sugestão de envio de observadores internacionais é um insulto ao Egito", declarou a jornalistas estrangeiros o vice-presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, Mokbel Shaker. Mas a Alta Comissão de Eleições disse que permitirá que organizações da sociedade civil monitorem a votação. A comissão impôs regras severas: monitores podem ter acesso às seções de votação, mas somente de acordo com orientações das autoridades eleitorais; eles não podem questionar os funcionários das seções nem interagir com os eleitores. Além disso, dizem colunistas políticos, a comissão vem sendo rigorosa em emitir credenciais para monitores. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.