Foco no desenvolvimento econômico, definido no discurso realizado em abril, substituiu a estratégia norte-coreana que vigorava desde 2013
Por Cláudia Trevisan , correspondente e Washington
Atualização:
WASHINGTON - Imagens de prosperidade do mundo exterior costumam ser banidas da mídia estatal da Coreia do Norte, mas Kim Jong-un abriu uma exceção para Cingapura, a cidade-Estado que sediou sua histórica cúpula com Donald Trump. Além de verem arranha-céus iluminados, os habitantes do país mais fechado do mundo foram informados que seu “supremo líder” gostaria de aprender com o modelo de desenvolvimento econômico e tecnológico do anfitrião.
Em discurso no dia 20 de abril, o ditador deixou claro a integrantes do partido governante da Coreia do Norte que sua prioridade a partir de então seria a modernização econômica, já que a tarefa de criar um arsenal nuclear estava concluída. No mês anterior, ele havia dado um passo decisivo nessa direção, ao propor a reunião com Trump, oferta aceita de maneira imediata pelo americano.
A negociação com os Estados Unidos e o esperado relaxamento de sanções internacionais são essenciais para Kim injetar oxigênio na economia local. Ainda que os americanos mantenham suas sanções em vigor, a China deverá amenizar as restrições que impôs. A Coreia do Sul também dá mostras de que pretende ampliar a cooperação econômica com o Norte.
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“Ele está definindo a narrativa para mudar como as coisas são feitas na Coreia do Norte”, disse Patricia Kim, do Council on Foreign Relations. “Acredito que ele realmente quer desenvolvimento econômico e mudança no seu país.” Aos 34 anos, Kim tem chance de ficar décadas no poder.
O encontro de Donald Trump e Kim Jong-un em Cingapura
1 / 31O encontro de Donald Trump e Kim Jong-un em Cingapura
Coreia do Norte
Donald Trump se reúne com Kim Jong-un em Cingapura. Foto: AFP Photo/Saul Loeb
O encontro entre Kim e Trump
No começo do encontro, líderes apareceram em varanda do Capella Hotel para fotos. Foto: AP Photo/Evan Vucci
O encontro entre Kim e Trump
O início do encontro entre Trump e Kim em Cingapura. Eles devem falar sobre o resultado da reunião em coletiva de imprensa prevista para as 5h desta t... Foto: AP Photo/Evan VucciMais
O encontro entre Trump e Kim
Em estação de trem em Seul, na Coreia do Sul, moradores comemoram o aperto de mãos entre os líderes dos EUA e Coreia do Norte. Foto: AP Photo/Ahn Young-joon
O encontro entre Kim e Trump
O clima entre os líderes foi amistoso, com sorrisos e apertos de mãos, no começo do encontro no Capella Hotel. Foto: Saul Loeb/AFP
O encontro entre Trump e Kim
Coreanos que vivem em Cingapura assistem ao encontro transmitido pela TV local. Foto: REUTERS/Tyrone Siu
O encontro entre Trump e Kim
Depois de aperto de mãos, Kim e Trump posaram brevemente para fotos antes de reunião a portas fechadas no Capella Hotel, em Cingapura. Foto: Host Broadcaster Mediacorp Pte Ltd via AP
O encontro entre Kim e Trump
Sul-coreano mostra cartaz de apoio ao encontro entre Kim e Trump próximo ao Capella Hotel, em Cingapura. Foto: REUTERS/Kim Kyung-hoon
O encontro entre Kim e Trump
Imprensa foi autorizada a registrar imagens dos primeiros minutos da reunião entre Kim e Trump. Foto: REUTERS/Jonathan Ernst
O encontro entre Kim e Trump
Repórteres, fotógrafose cinegrafistas se aglomeram do lado de fora do Capella Hotel, isolados por forte esquema de segurança. Foto: Bloomberg photo by SeongJoon Cho
O encontro entre Kim e Trump
Antes de reunião, líderes da Coreia do Norte e dos EUA posaram para imagens no Capella Hotel, na ilha-resort de Sentosa, em Cingapura. Foto: Host Broadcaster Mediacorp Pte Ltd via AP
O encontro entre Kim e Trump
Público sul-coreano para em estação de trens de Seul para assistir à transmissão do encontro entre Kim Jong-un e Donald Trump. Foto: AP Photo/Ahn Young-joon
Trump e Kim se reúnem em hotel em Cingapura.
Após aperto de mãos oficial, Kim Jong-un e Donald Trump se encaminharam para encontro a portas fechadas. Foto: Saul Loeb/AFP
O encontro entre Trump e Kim
Jornalistas norte-coreanos filmam a escolta do líder Kim Jong-un no trajeto entre o hotel onde está hospedado até o local do evento onde deve encontra... Foto: AP Photo/Yong Teck LimMais
Coreia do Norte
Sul-coreanos acompanham encontro entre Trump e Kim Jong-un em TV de estação de trem em Seul Foto: AFP PHOTO / Jung Yeon-je
O encontro entre Trump e Kim
Jornalistas de todo o mundo na cobertura do encontro histórico entre os líderes dos EUA e da Coreia do Norte na ilha-resort de Sentosa, em Cingapura. Foto: REUTERS/Kim Kyung-hoon
O encontro entre Trump e Kim
Kim e Trump se encaminham para reunião a portas fechadas no Capella Hotel. Foto: Saul Loeb/AFP
Coreia do Norte
Kim Jong-un e Donald Trump trocam aperto de mãos histórico antes de cúpula em Cingapura Foto: Host Broadcaster Mediacorp Pte Ltd via AP
O encontro entre Trump e Kim Jong-un
Em Washington, nos EUA, ativistas fazem vigília em frente à Casa Branca para celebrar o encontro entre Trump e Kim Jong-un em Cingapura. Foto: REUTERS/Toya Sarno Jordan
O encontro de Trump e Kim Jong-un
O palco onde são aguardados os líderes dos EUA e da Coreia do Norte no Capella Hotel, na Ilha de Sentosa, em Cingapura. Foto: REUTERS/Jonathan Ernst
O encontro entre Trump e Kim
Policiais em comboio para escolta de Kim Jong-un até o Capella Hotel, na ilha-resort de Sentosa, em Cingapura. Foto: AP Photo/Yong Teck Lim
O encontro entre Trump e Kim
O líder norte-coreano Kim Jong-un, acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores de Cingapura, Vivian Balakrishnan, na chegada à ilha-resort de Se... Foto: KCNA via REUTERSMais
O encontro entre Trump e Kim
O presidente Donald Trump encontra o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong, na sede do governo do país. Foto: Doug Mills/The New York Times
Fazendo história
Kim Jong-un e Donald Trump trocam aperto de mãos histórico antes de cúpula em Cingapura. Foto: Jonathan Ernst/Reuters
O encontro entre Trump e Kim
O comboio policial que acompanhou o carro onde o presidente norte-americano, Donald Trump, foi levado até o local do encontro com Kim Jong-un na ilha-... Foto: AP Photo/Wong Maye-EMais
O encontro entre Trump e Kim
Após almoçarem juntos,os líderes passearam pelohotel Capellae depois se separaram para se reunir com suas respectivas delegações e avaliar os progress... Foto: REUTERS/Jonathan ErnstMais
O encontro entre Trump e Kim
Por volta das 2:30h, no horário de Brasília, os líderes se reuniram para assinar umacordo que, segundo eles, representauma “cooperação entre os dois p... Foto: REUTERS/Jonathan ErnstMais
O encontro entre Trump e Kim
Um funcionário norte-coreano limpa e guarda a caneta usada por Kim para assinar o acordo. Foto: REUTERS/Jonathan Ernst
O encontro entre Trump e Kim
Durante a assinatura do acordo, os líderes deram declarações à imprensa. Trump disse que "os dois lados ficarão impressionados com o resultado da cúpu... Foto: REUTERS/Jonathan ErnstMais
O encontro entre Trump e Kim
Após a assinatura do acordo, os líderes deixaram a sala. O presidente norte-americano chegou a afirmar que "com certeza" irá convidar Kim para visitar... Foto: REUTERS/Jonathan ErnstMais
O encontro entre Trump e Kim
Após mais de quatro horas com o presidente norte-americano, Kim Jong-un deixa o hotel Capella em seu carro oficial. O presidente Trump ainda aguarda n... Foto: REUTERS/Athit PerawongmethaMais
Apesar de Trump ter apresentado a cúpula como uma vitória pessoal, o ritmo das negociações está sendo ditado por Kim, que só fez o aceno diplomático depois de declarar vitória no desenvolvimento de seu arsenal nuclear. No ano passado, a Coreia do Norte testou sua mais potente bomba nuclear, além de mísseis intercontinentais capazes de atingir os EUA. Antes de propor o encontro com Trump, Kim já havia determinado a suspensão de novos testes – o último ocorreu em novembro.
O foco no desenvolvimento econômico definido no discurso de abril substituiu a estratégia que estava em vigor desde 2013, na qual esse objetivo dividia espaço com o programa nuclear. “Trump atribuiu a abertura diplomática de Pyongyang ao aumento das sanções, mas não acredito que elas foram o fator determinante”, disse Eric Gomez, especialista em Ásia do Cato Institute. Segundo ele, a mudança obedece aos interesses de Kim de modernizar a economia. “Quando atingiu certo patamar de desenvolvimento nuclear, Kim decidiu negociar em posição de força”, observou.
Até o início deste ano, o ditador norte-coreano havia se recusado a se encontrar com líderes estrangeiros e manteve distância até de Xi Jinping, da China. Os dois tiveram sua primeira reunião em março, mais de seis anos depois da chegada de Kim ao poder.
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Responsável por 90% do comércio exterior da Coreia do Norte, a China terá um papel crucial no desenvolvimento norte-coreano, mas Gomez acredita que o ditador tentará reduzir a dependência do país vizinho. Depois de Xi, Kim se reuniu com Moon Jae-in, líder da Coreia do Sul, e Trump. Agora, se prepara para encontrar o russo Vladimir Putin.
Poucos analistas acreditam que Kim abrirá mão de seu arsenal nuclear. Ainda assim, a suspensão dos testes deverá continuar, o que reduzirá o apoio internacional às sanções econômicas e tornará impossível para os EUA retomarem a campanha de “máxima pressão” desencadeada em 2017. “Ele (Kim) jogou suas cartas muito bem”, disse Gary Samore, do Centro Belfer para Ciência e Assuntos Internacionais da Universidade de Harvard.