Debate: O caso atingirá Trump pai?

Para um, caso é prova na investigação de conluio entre a campanha e os russos; para outro, histeria sobre a 'conspiração' entre Trump e Kremlin atingiu o ápice

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Atualização:

Randall Eliason*: SIM 

Donald Trump Jr. liberou os e-mails ligados à sua reunião, em junho de 201, com a advogada russa Natalia Veselnitskaya. Falar que eles nos deixaram “boquiabertos” é pouco. Como escrevi na segunda-feira, essa reunião – da qual participaram Paul Manafort, então coordenador de campanha de Trump, e seu cunhado Jared Kushner – é uma prova-chave na investigação de conluio entre a campanha e os russos. Trump Jr. admitiu ter participado do encontro ao ser informado por e-mail que a advogada se propunha a oferecer informações prejudiciais sobre Hillary Clinton. Mas os e-mails que ele postou no Twitter, aparentemente após saber que o New York Times iria publicá-los, são muito mais condenatórios do que se poderia imaginar.

Segundo o jornal 'The New York Times', Donald Trump Jr. se reuniu com a advogada russa Natalia Veselnitskaya, de quem supostamente pretendia obter informação comprometedora para prejudicar Hillary Clinton Foto: Washington Post photo by Jabin Botsford

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O e-mail do sócio de Trump, Rob Goldstone, dizia que Moscou propunha fornecer à campanha de Trump “alguns documentos oficiais e informações que incriminariam Hillary”. E explicava que a oferta era “parte do apoio da Rússia a Donald Trump”. Os e-mails qualificam Natalia como “advogada do governo russo”. A resposta de Trump Jr. foi aceitar, marcar a data do encontro e informar Goldstone que Kushner e Manafort também participariam.

Uau! Onde começar? Primeiro, segundo os e-mails, o objetivo da reunião era receber informações comprometedoras sobre Hillary. Trump Jr. e outros afirmaram que a reunião teve a ver com as sanções contra a Rússia, mas tais assuntos não são evocados nos e-mails. A equipe de Trump pode ter tentado caracterizar Natalia como uma advogada particular e dizer que não tinham razão para achar que ela atuava em nome da Rússia. Mas os e-mails não podem ser mais claros no sentido de que a informação oferecida era do governo russo. 

Qualquer coordenador de campanha responsável que deparasse com uma oferta assim, seguiria na outra direção. Provavelmente também chamaria o FBI. A equipe de Trump, aparentemente, aceitou. No meio da campanha, três dos mais confiáveis assessores arranjaram tempo para se encontrar com um “advogado do governo russo” para ver o que Moscou tinha a oferecer. Anteriormente, fiz referência aos promotores que vêm construindo um muro de evidências, tijolo por tijolo, para estabelecer sem qualquer sombra de dúvidas as provas da conspiração. Com esses e-mails, Trump Jr. ofereceu um caminhão repleto de tijolos. 

Ed Rogers**: NÃO 

A histeria sobre a “conspiração” entre Trump e o Kremlin atingiu o ápice. Os lamentos sobre o encontro de Donald Trump Jr. com uma advogada russa talvez sejam o último suspiro desse falso escândalo. Como se poderia prever, o New York Times deu o pontapé inicial com uma cobertura de primeira página, chegando a afirmar: “Os relatos sobre o encontro representam a primeira indicação pública de que pelo menos alguns membros da campanha estavam dispostos a aceitar a ajuda russa”. 

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O Times seguiu com uma manchete que dizia que o pedido de reunião e o assunto foram transmitidos a Trump Jr. por e-mail. Minha nossa, o jornal está tão desesperado que os preparativos do encontro foram parar na primeira página. E, é claro, a CNN anda apoplética, transmitindo uma história atrás da outra sobre os “desdobramentos”. Mas é o site Politico que merece o prêmio pelas notícias mais estapafúrdias, alegando que o encontro pode ser considerado crime. 

Sempre há gente rondando as campanhas e tentando vender informação. Não há nada de mais quando um cidadão que trabalha em uma campanha se reúne com o amigo de um amigo que oferece informações sobre um rival. Mas a mídia quer transformar o fato em prova cabal. Se reuniões com esse tipo de gente é crime, espero que haja prescrição – porque fui reincidente.

Não me leve a mal. Trump Jr. não deveria ter marcado o encontro. Nenhuma autoridade de campanha, muito menos um familiar do candidato, deveria tomar parte nisso. O encontro foi um erro. Entre a curiosidade humana e o dever profissional de levantar os podres sempre que possível, Trump Jr. achou que a pessoa precisava ser ouvida. Foi um erro, mas não uma colaboração. Ele foi a um único encontro, e nada aconteceu. 

Mas, segundo o Politico, Trump Jr. teria violado estatutos criminais que proíbem a solicitação ou a aceitação de qualquer coisa de valor de um cidadão estrangeiro. Por esse padrão, se alguém sugerir uma ideia que leve à vitória de um candidato, teria sido um crime aceitar “uma coisa de valor” na forma de uma ideia? Claro que não. Para muitos, as queixas contra Trump justificam a promoção do “escândalo da conspiração”. Mas não porque a história seja válida. A mídia sabe que não está atingindo Trump com mais nada. Hoje, grande parte da cobertura é vingança. Diante de tanta intensidade, é difícil achar que isso vá acabar bem. 

*É PROFESSOR DE DIREITO DA UNIVERSIDADE GEORGE WASHINGTON 

**É CONSULTOR POLÍTICO E FOI ASSESSOR DE RONALD REAGAN E DE GEORGE H. BUSH

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