Debate sobre segurança põe Obama na defensiva

Fechamento de Guantánamo acirra radicalismo em Washington

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Por Peter Baker
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O presidente dos EUA, Barack Obama, enfrenta dois desafios desanimadores: convencer a população de que o país está seguro, a despeito das advertências em contrário da direita e, ao mesmo tempo, persuadir a esquerda de que basta emendar, sem abandonar, a abordagem do ex-presidente George W. Bush. A situação coloca Obama na defensiva pela primeira vez desde que assumiu o cargo. Agora, ele aposta em sua oratória para convencer o público de que trazer suspeitos de terrorismo para prisões em solo americano não traz nenhum risco. Frente a essa situação, ele situou suas posições em algum ponto entre a política de Bush e as medidas defendidas pela União Americana pelas Liberdades Civis. Em vez de optar por um programa previsível, Obama escolheu elementos aparentemente díspares do espectro político: banir a tortura e outras técnicas rudes de interrogatório, mas adotar a detenção por tempo indeterminado e sem julgamento de alguns suspeitos de terrorismo; fechar a prisão de Guantánamo, mas conservar as comissões militares ali mantidas. "Uma abordagem cirúrgica", assim a chamou o presidente em seu pronunciamento na quinta-feira. Abordagens cirúrgicas, contudo, raramente são satisfatórias para as duas pontas do espectro político que costumam dominar Washington. No debate reducionista atual, ou é preciso fazer qualquer sacrifício para vencer a guerra contra os radicais ou o terrorismo não justifica nenhuma concessão dos cultuados valores americanos. "Ambos os lados podem ser sinceros em suas posições, mas nenhum deles está certo", declarou Obama. "O povo americano não é absolutista e não nos elegeu para impor uma ideologia rígida sobre nossos problemas. Ele sabe que não precisamos sacrificar nossa segurança por nossos valores, nem sacrificar nossos valores por nossa segurança, desde que abordemos questões difíceis com honestidade, cuidado e uma boa dose de senso comum." CRÍTICA Em seu discurso de resposta, do outro lado da cidade de Washington, o ex-vice-presidente Dick Cheney afirmou que usar do absolutismo na defesa da liberdade não é um problema. "Na luta contra o terror, não há meio termo. Meias medidas nos deixam muito expostos", disse ele. "Não podemos simplesmente manter longe dos EUA alguns terroristas com acesso a armas nucleares." Os debates sobre as últimas decisões de Obama - estabelecer uma base legal para manter detidos indefinidamente sem acusação e não divulgar fotos de abusos enquanto reabilita tribunais militares - podem marcar a sua presidência. Obama terá de usar, cada vez mais, sua capacidade de conquistar pessoas, como tentou fazer na questão do aborto, no discurso de domingo, na Universidade de Notre-Dame.

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