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Decisão da Opep sobre petróleo aprofunda crise do chavismo

Manutenção de nível atual de produção deve manter o preço do petróleo bem abaixo do que Maduro necessita para equilibrar economia

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Por Luiz Raatz
Atualização:

Frustração. Chanceler e ex-ministro do Petróleo, Rafael Ramírez representou a Venezuela na reunião da Opep em Viena Foto: Heinz-Peter Bader/Reuters

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A Venezuela saiu derrotada ontem da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em Viena, na qual foi anunciada a manutenção dos altos níveis atuais de produção da commodity. Com isso, o preço do barril, que tem caído nos últimos meses, deve seguir bem abaixo do considerado ideal pelo presidente Nicolás Maduro. Analistas avaliam que a decisão ameaça seriamente a economia do país para 2015, aprofundando a crise pela qual passa o chavismo.

Em Viena, o chanceler venezuelano e ex-presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, contestou a decisão capitaneada pelas monarquias do Golfo Pérsico. "A queda no preço do petróleo não interessa a ninguém", afirmou,

Maduro disse que a queda dos preços não afetará seu governo. "Os inimigos da pátria já esfregam as mãos achando que isso vai interromper a revolução bolivariana", declarou. "Continuaremos tentando fazer com que o preço chegue onde tem de chegar: US$ 100 por barril."

Com 96% de suas receitas provenientes do petróleo, a Venezuela viu, desde julho, o preço de sua cesta cair 29,3%. Estimativa informada ao Estado pela consultoria venezuelana Ecoanalítica estima que o governo chavista perderá em 2015 cerca de 20% do dinheiro obtido com a exportação da commodity.

Em um cenário macroeconômico já debilitado desde a crise provocada pela expansão do gasto público nas eleições de Hugo Chávez, em 2012, e Nicolás Maduro, em 2013, economistas acreditam em um ano bastante difícil para o chavismo, que em dezembro terá o desafio de manter sua maioria na Assembleia Nacional.

"O governo deve sofrer ainda mais para importar alimentos e bens. Além disso, os insumos para a produção no setor privado devem ficar mais raros", disse ao Estado o diretor da Ecoanalítica, Asdrubal Oliveros. "O governo precisa de um plano de ajuste macroeconômico, mas não tem dado sinais de que fará isso. Corte no envio de petróleo aos países do Caribe e Cuba, novos empréstimos com a China e a venda de ativos da PDVSA, além da diminuição das importações e nova desvalorização cambial seriam prováveis."

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Nos últimos meses, Maduro tem dito que é inevitável um reajuste da gasolina, que na Venezuela é, na prática, subsidiada integralmente - o litro custa o equivalente a US$ 0,01.

A crise de escassez de dólares, que começou no ano passado, provocou uma alta na inflação, no endividamento público e na escassez de bens. Dados macroeconômicos como o Índice de Preços ao Consumidor e as reservas internacionais em dólar não são publicados desde agosto. O FMI estima para 2014 uma contração de 3% no PIB e uma inflação de 64,3%.

Com a receita do petróleo caindo e a PDVSA com dificuldades no fluxo de caixa, Maduro optou por aumentar a massa monetária em circulação. Em 2012, havia na Venezuela 92 bilhões de bolívares em papel-moeda, segundo o Banco Central do país. Hoje, o valor é de 157 bilhões. Sem lastro para a ampliação, uma vez que a reserva em dólares nos últimos anos manteve-se em torno de US$ 21 bilhões, isso contribuiu para aumentar a inflação

Segundo o economista Orlando Ochoa, da Universidade Católica Andrés Bello, a Venezuela deve viver em 2015 sua pior crise em 50 anos. "A decisão da Opep é muito ruim para Maduro porque ele não tem recursos para estabilizar a situação", afirmou à reportagem. "Além disso, ele tem restrições ideológicas a qualquer plano de ajuste. Antes, com o barril de petróleo a US$ 100, ele tinha como aliviar um pouco os desequilíbrios do país."

O especialista em petróleo, José Toro Hardy alerta que os preços baixos tenham vindo para ficar. "Os sauditas querem fazer frente às novas fontes de energia, como o gás de xisto americano, que é mais barato."

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