Decisão pró-gays na Índia fortalece luta contra Aids

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Por MATTHIAS WILLIAMS
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A decisão de uma corte da Índia de descriminalizar as relações homossexuais intensificará a luta contra a Aids, mas um forte estigma contra a homossexualidade e a desigualdade dentro do sistema de saúde prejudicarão os esforços, segundo um diretor da Unaids, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) de combate à Aids. A Alta Corte de Délhi invalidou uma antiga lei herdada do período colonial britânico sobre o sexo entre gays, para a felicidade dos ativistas e funcionários da área de saúde e para a preocupação de alguns líderes religiosos. O veredicto, no entanto, poderá ser contestado na Suprema Corte e a lei de 1861 proibindo o "sexo contra a ordem na natureza" - interpretado como as relações homossexuais - ainda não foi anulada e prevê a prisão por até 10 anos. Na Índia, que abriga ao menos 2,5 milhões de pessoas infectadas pelo HIV entre seus mais de 1,1 bilhão de habitantes, o preconceito contra homossexuais e pessoas com Aids provavelmente ainda deverá prejudicar muitos pacientes em busca de tratamento. "Isso fará diferença, não da noite para o dia, mas certamente ao longo do tempo", disse J.V.R. Prasada Rao, diretor regional da Unaids para a Ásia e o Pacífico, por telefone. "Essa ainda é uma comunidade que permanece às escondidas...eles não vêm aos centros de tratamento por causa do estigma ligado a isso", acrescentou ele. Os serviços médicos da Índia permanecem desiguais, afirmou Rao. Uma ação governamental mais eficaz na maioria dos Estados do sul levou as taxas de infecção a se estabilizarem, mas as taxas estão subindo nos Estados populosos do norte, como Uttar Pradesh e Bihar, e do nordeste, disse ele, sem fornecer números. "Os Estados do sul iniciaram a resposta muito mais cedo", disse Rao. "O sistema de saúde e o governo são definitivamente melhores nos Estados do sul." Estima-se que 33 milhões de pessoas no mundo estejam infectadas com o vírus da Aids, a maioria delas na África ou em outros países em desenvolvimento. Rao disse que o veredicto de quinta-feira poderia servir de sugestão para outros países, incluindo ex-colônias britânicas como Paquistão, Bangladesh e Sri Lanka, que proíbem as relações homossexuais dentro da mesma seção do código penal que a Índia o faz - a seção 377. "Essa decisão na Índia definitivamente vai ter um impacto sobre outros países e em especial sobre a mobilização da opinião pública", afirmou ele.

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