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Defensores do regime cubano atacam dissidentes durante evento no Panamá

Cúpula das Américas. Em fórum paralelo ao encontro de chefes de Estado que começará amanhã, opositores do governo de Cuba são hostilizados; presidente americano, Barack Obama, chega à Jamaica hoje para visita antes de seguir para a capital panamenha

Por CLÁUDIA TREVISAN e PANAMÁ
Atualização:

O confronto entre dissidentes cubanos e defensores dos governos de Cuba e da Venezuela marcou o primeiro dia do fórum da sociedade civil que ocorre no âmbito da 7.ª Cúpula das Américas, no Panamá. Opositores de Raúl Castro foram chamados de "mercenários" e "vendidos ao império" na entrada e na saída do evento. No salão, a delegação "oficial" dos dois países realizou uma manifestação contra os EUA e a presença de ativistas independentes no encontro. Quando o fórum terminou, um grupo de pessoas com bandeiras da Venezuela e de Cuba se reuniu na saída e cantou Guantanamera e gritou "Fidel, Fidel" e "Cuba Socialista".

Homem grita slogans contra o governocubano do lado defora da Cúpula das Américas. Cerca de 100 partidários dissidentes do governo de Cubaparticiparam de um fórum da sociedade civil no início da Cúpula das Américas, no Panamá. Foto: AP

A cúpula é a primeira a contar com a presença do governo de Cuba e de representantes da sociedade civil, que se dividem entre os críticos e os defensores de Raúl, ligados a organizações que contam com apoio oficial. Eles acusam os opositores de receber financiamento dos EUA. Manuel Cuesta Morúa, um dos principais dissidentes cubanos, disse que os representantes da sociedade civil "revolucionária" - pró-governo - chegaram ao Panamá sem disposição de dialogar com as organizações independentes. "Eles não toleram que representantes da diversidade e da pluralidade democrática cubana convivam no mesmo espaço em que eles estão. Essa intolerância revolucionária à diversidade e à diferença se manifesta aqui", disse Cuesta Morúa ao Estado. Porta-voz do Partido Arco Progressista, Cuesta Morúa observou que a Cúpula das Américas é o primeiro evento que dá "legitimidade" tanto ao governo de Cuba quanto à sociedade civil democrática. "Atores que não falam dentro do país agora estão no mesmo local", afirmou. Mas ele disse considerar pouco provável que a coincidência promova um diálogo entre os dois lados, em razão da resistência dos grupos oficiais. Representantes das organizações defensoras dos governos de Cuba e da Venezuela se retiraram do fórum em protesto pela presença no evento de ONGs independentes. "São mercenários inescrupulosos pagos por um império e não representam nenhuma sociedade", declarou ao Estado Yordanys Gomez, que integra a delegação cubana para o Fórum da Juventude. O presidente Barack Obama foi um dos principais alvos do protesto que os grupos pró-governo realizaram. Eles pediam a revogação das sanções a sete venezuelanos acusados de violação dos direitos humanos. Segundo o grupo, o Panamá não poderia ter credenciado integrantes das ONGs independentes. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pretende entregar a Obama um abaixo assinado com 10 milhões de adesões contra as sanções. Apesar de atingir apenas sete pessoas, o decreto classifica a Venezuela como uma "ameaça" à segurança nacional e à política externa americana. O governo dos EUA sustenta que essa é a linguagem exigida por lei para a imposição de sanções. O confronto com a Venezuela ameaça ofuscar o principal assunto da cúpula, que é a presença de Cuba. Há quatro meses, Obama e Raúl surpreenderam o mundo ao anunciar que seus países estavam reatando relações diplomáticas após mais de 50 anos. Há a expectativa de que Obama anuncie a retirada de Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo. Amanhã à tarde, Obama estará ao lado da presidente Dilma Rousseff em um painel do fórum de CEOs, que reunirá representantes de 700 empresas das Américas.

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