Democrata enfrenta racismo enrustido

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Por Nicholas D. Kristoff
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A tese de que Barack Obama esteja pagando um preço eleitoral pela cor de sua pele - e de que isso se deve aos racistas - está em questão. Ao contrário, as provas indicam que o senador Obama está enfrentando aquilo que os estudiosos chamam de "racismo sem racistas". O racismo é difícil de mensurar, mas um estudo concluído no mês passado pela Universidade Stanford, em conjunto com a Associated Press e o Yahoo, sugere que o apoio a Obama seria 6 pontos porcentuais maior se ele fosse branco. Entretanto, a maioria dos votos perdidos não é de racistas convictos. Estes correspondem a talvez cerca de 10% do eleitorado e, segundo sugerem as pesquisas de opinião, são principalmente conservadores que não votariam em um candidato democrata, fosse ele branco ou negro. Ao invés disso, a maioria dos votos que Obama de fato perde pertence a brancos bem-intencionados, que acreditam na igualdade racial e não fazem objeção à eleição de um negro como presidente. "Quando nos fixamos no indivíduo racista, estamos nos concentrando no aspecto menos interessante do funcionamento do conceito de raça", disse Philip Goff, psicólogo social da Universidade da Califórnia, cuja pesquisa se concentra no "racismo sem racistas". "Esse funcionamento do conceito de raça se dá, na maioria das vezes, sem a necessidade de hostilidade racial." Durante décadas, os experimentos demonstraram que até brancos que acreditam sinceramente na igualdade de direitos recomendariam um candidato branco para uma vaga de emprego com uma freqüência maior do que recomendariam um candidato negro. Nos experimentos, a ficha do candidato apresenta a pessoa às vezes como branca, às vezes como negra, mantendo inalteradas todas as outras características. A pesquisa sugere que os brancos apresentam grande probabilidade de discriminação contra negros quando a escolha não é clara. Por exemplo, quando o candidato negro é altamente qualificado, não há discriminação. No entanto, há uma zona cinzenta, nos detalhes, onde a discriminação inconsciente desempenha um importante papel. Os participantes brancos recomendaram a contratação de um candidato branco de qualificação apenas suficiente em 76% das ocasiões, ao passo que um candidato negro de qualificação idêntica foi recomendado em apenas 45% das vezes. John Dovidio, psicólogo da Universidade de Yale, destacou que o preconceito consciente diminuiu com o passar do tempo. Contudo, a discriminação inconsciente - aquilo que os psicólogos chamam de "racismo relutante" - permanece relativamente constante. PRECONCEITO Quando enfrentam uma decisão complexa, disse Dovidio, os racistas relutantes sentem inseguranças em relação a um negro que não sentiriam em relação a um branco. "Essas inseguranças tendem a ser atribuídas não à raça da pessoa - pois isto seria racismo -, mas a características que podem ser comentadas, como a falta de experiência", explicou. É claro que há razões legítimas para opor-se a um candidato negro em particular, incluindo Obama. A oposição a ele é uma prova de racismo tanto quanto a oposição a McCain prova a discriminação contra idosos ou contra veteranos de guerra. E há ocasiões em que a raça de Obama o ajuda a ganhar votos: é uma característica que sublinha a sua mensagem de mudança, agrada a alguns brancos como prova da sua mente aberta e consegue para ele o voto e a presença do eleitorado negro nas urnas. Ainda assim, um imenso conjunto de pesquisas sugere que 50% ou mais dos brancos apresentam preconceitos inconscientes que às vezes levam à discriminação racial - os negros têm os seus próprios preconceitos inconscientes, com surpreendente freqüência contra eles mesmos. Os preconceitos raciais estão profundamente inseridos em nós, muito mais do que acreditam os brancos. Entretanto, outra lição, uma lição histórica, é a de que somos capazes de superar nossos preconceitos inconscientes. Foi isso o que aconteceu com o declínio do preconceito contra católicos após a candidatura de John F. Kennedy à presidência, em 1960. Isso pode acontecer novamente, desta vez em relação à raça. *Nicholas D. Kristoff é colunista do ?New York Times?

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