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Democratas concluem acusação e pedem condenação de Trump para evitar violência no futuro

Ao relacionar os atos e falas de Trump ao ataque ao Capitólio em 6 de janeiro, democratas argumentaram que o republicano pode incitar novamente à violência civil no país se não for punido 

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e Correspondente
Atualização:

WASHINGTON - Depois de duas tardes de argumentação, deputados democratas concluíram a acusação contra Donald Trump no Senado americano com o pedido de condenação do ex-presidente para evitar episódios de violência no futuro. Ao relacionar os atos e falas de Trump ao ataque ao Capitólio em 6 de janeiro, democratas argumentaram que o republicano pode incitar novamente à violência civil no país se não for punido no processo de impeachment e impedido de concorrer novamente à Casa Branca.

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"Não tenho medo de Donald Trump concorrer novamente daqui a quatro anos. Tenho medo de que ele corra de novo e perca, porque ele poderá fazer isso de novo", disse o deputado democrata Ted Lieu, um dos gerentes de acusação. "Impeachment não é para punir, mas para prevenir", disse a democrata Diana DeGette. "Não estamos aqui para punir Trump. Estamos aqui para evitar que as sementes do ódio que ele plantou produzam mais frutos”, afirmou a deputada.

Nesta quinta-feira, os democratas exibiram vídeos e declarações de invasores que disseram ter seguido ordens do então presidente Trump ao atacar o Capitólio no dia da certificação da vitória de Joe Biden pelos congressistas. A inércia do ex-presidente nos momentos posteriores à invasão e a ausência de remorso por parte do republicano são citadas pelos democratas como indicativos de que Trump é uma ameaça ao país e pode incitar novamente a insurreição e a violência.

Vídeo de discurso de Donald Trump é apresentado durante processo de impeachment no Senado Foto: Erin Schaff/The New York Times

O apelo é também uma forma de os democratas sugerirem aos senadores republicanos - não estão dispostos a condenar o ex-presidente de seu partido - que eles terão responsabilidade se episódios de extremismo político voltarem a ocorrer.

Se condenado, Trump pode ser impedido de concorrer a um cargo federal novamente -- e, portanto, disputar Casa Branca em 2024. Para isso, é preciso de 67 dos 100 senadores, o que exige o voto de ao menos 17 republicanos contra o ex-presidente. Para torná-lo inelegível, seria necessário, após a condenação, fazer mais uma votação, dessa vez, com maioria simples.  

Os parlamentares do partido de Trump ensaiaram um rompimento com o ex-presidente logo após o episódio de ataque ao Capitólio, mas recuaram e não devem condenar o republicano, que mantém importante influência sobre a base eleitoral do partido.

Na quarta-feira, ao apresentar os primeiros argumentos de acusação, os democratas apresentaram vídeos inéditos do circuito de segurança do Capitólio e fizeram uma retrospectiva dos ataques de 6 de janeiro com uma linha do tempo que mesclou trechos do discurso de Trump, publicações do ex-presidente no Twitter e cenas fortes da invasão. 

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Democratas alegam que a insistência de Trump na narrativa de que houve fraude eleitoral e a incitação à violência durante os anos de presidência do republicano foram determinantes para a invasão do Congresso americano. 

"Pedimos humildemente que condenem o presidente Trump pelo crime pelo qual ele é totalmente culpado. Se vocês não fizerem isso, se fingirmos que isso não aconteceu, ou pior, se deixarmos ficar sem resposta, quem pode dizer que não vai acontecer de novo?", disse o deputado Joe Neguse.

Responsabilidade

Cinco pessoas ligadas ao grupo Proud Boys, grupo de extrema direita que apoia Trump, foram acusadas criminalmente na quinta-feira por conspiração no ataque ao Capitólio. No Senado, democratas afirmaram que os invasores irão responder na Justiça por seus atos e, portanto, Trump precisa também ser responsabilizado como "líder" do episódio. 

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“Meus queridos colegas, há algum líder político nesta sala que acredita que se o Senado o permitisse voltar ao Salão Oval, Donald Trump pararia de incitar a violência para conseguir o que quer?", questionou o líder da acusação, Jamie Raskin perguntou. “Você apostaria a vida de mais policiais nisso? Você apostaria a segurança de sua família nisso? Você apostaria o futuro da sua democracia nisso?", disse o deputado.

Democratas lembraram outros momentos em que Trump consentiu e estimulou atos violentos, como quando disse haver pessoas boas "dos dois lados" durante o ataque de supremacistas brancos em Charlottesville, em 2017. Mais recentemente, lembraram os deputados, Trump mostrou apoio em um tuíte à invasão da sede do Legislativo de Michigan por extremistas armados contrários à quarentena imposta pela governadora como medida de contenção do coronavírus.

Segundo a acusação, a violência e o estímulo ao ataque do dia 6 de janeiro não foi algo fora da rota no governo Trump, mas um "estado de espírito" estimulado pelo republicano.

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Defesa

A acusação concluiu os argumentos por volta das 16h20 (18h20 no horário de Brasília) de quinta-feira. Os advogados de Trump terão dois dias para fazer a defesa do ex-presidente, mas já avisaram que não pretendem levar mais do que uma sessão para a sustentação. A votação final do impeachment poderá acontecer no fim de semana. 

Democratas e republicanos não têm interesse em prolongar o impeachment e não há previsão de testemunhas serem ouvidas. Enquanto republicanos buscam virar a página o mais breve possível de um episódio sombrio e incômodo para o partido, democratas buscam liberar a agenda para negociar o pacote de socorro econômico do governo Biden a famílias e empresas.

Os advogados de Trump já apresentaram as linhas prévias de defesa e devem argumentar que, fora do cargo, ele não pode ser condenado no processo de impeachment. A defesa também alega que Trump usou discurso político típico ao pedir que seus apoiadores "lutassem como o inferno" por ele e invocam a Primeira Emenda da Constituição Americana, que protege a liberdade de expressão.

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