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Democratas rejeitam tese de Trump e mantêm impeachment no Senado

Advogados do republicano denunciam processo de impeachment contra ele como um 'teatro político'; gerentes do processo dizem que ele foi responsável pelo 'crime constitucional mais grave já cometido por um presidente'

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e Correspondente
Atualização:

WASHINGTON - O Senado dos Estados Unidos começa nesta terça-feira, 9, o segundo julgamento de Donald Trump, primeiro presidente a ter um processo de impeachment analisado mesmo após deixar o cargo. Hoje, deputados democratas afirmaram que Trump foi responsável pelo “crime constitucional mais grave já cometido por um presidente” ao incitar uma multidão a atacar o Capitólio, no dia 6 de janeiro, quando o Congresso certificava a vitória de Joe Biden.

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“As evidências da conduta do presidente Trump são avassaladoras”, escreveram os democratas. “Ele não tem desculpa ou defesa válida para suas ações. E seus esforços para escapar da responsabilidade são totalmente inúteis. Conforme acusado no Artigo de Impeachment, o presidente Trump violou seu juramento de cargo e traiu o povo americano.  Seu incitamento à insurreição contra o governo dos Estados Unidos - que interrompeu a transferência pacífica do poder - é o crime constitucional mais grave já cometido por um presidente."

A manifestação foi uma resposta à defesa do republicano, apresentada mais cedo. Os advogados de Trump alegam que o impeachment de um presidente fora do cargo é inconstitucional e acusam os democratas de montarem um “teatro político”. Ainda segundo a defesa de Trump, ele não orientou os extremistas que atacaram o Congresso e não tem culpa por ter falado que seus apoiadores deveriam “lutar como o inferno” contra o resultado da eleição.

Sob um silêncio solene, os nove 'promotores' cruzaram para chegar ao Senado os mesmos corredores decorados por estátuas e telas invadidos por apoiadores de Trump no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro Foto: Tasos Katopodis/Getty Images/AFP

Desde a invasão, o entorno do Capitólio está bloqueado por seguranças e os corredores do Senado e da Câmara estão cheios de homens da Guarda Nacional. Tapumes protegem parte das janelas. Em algumas, é possível ver nos vidros quebrados as marcas da invasão.

Se condenado, Trump pode ficar impossibilitado de concorrer novamente. Para isso, pelo menos 17 dos 50 senadores republicanos precisam condenar o ex-presidente. No entanto, não há, até agora, disposição política para condená-lo – um sinal da influência que o ex-presidente ainda mantém sobre a base eleitoral e sobre o seu partido.

“O Senado deve rejeitar sumariamente este ato político descarado”, escreveram os advogados de Trump, Bruce Castor Jr., David Schoen e Michael van der Veen, chamando o único artigo de impeachment de “inconstitucional por uma série de razões, qualquer uma das quais sozinha seria motivo para anular o processo. 

Juntos, eles demonstram de forma conclusiva que ceder à “fome” dos democratas da Câmara por este “teatro político” é um perigo para os EUA, para a democracia e para os “direitos que consideramos caros”, afirmam os advogados do ex-presidente americano.

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O julgamento deve acabar só no início da semana que vem, com debates de terça-feira a sexta-feira, interrompidos no sábado a pedido da defesa de Trump, e possivelmente retomados no domingo. A alegação dos deputados que aprovaram o impeachment na Câmara, antes de o presidente encerrar seu mandato, é que Trump cometeu traição “de proporções históricas” ao afirmar que as eleições foram fraudadas e que ele, e não Biden, havia vencido.

Os democratas afirmam que Trump incitou a multidão à ação, no dia 6 de janeiro, quando extremistas invadiram o Congresso e cinco pessoas foram mortas. Segundo os deputados democratas, responsáveis pela acusação na Câmara, a ação do ex-presidente começou antes do discurso que ele fez, no mesmo dia, no qual afirma que seus apoiadores deveriam agir.

De acordo com a acusação dos democratas, Trump “ampliou as mentiras a cada momento, tentando convencer os seus apoiadores de que eles foram vítimas de uma conspiração eleitoral massiva que ameaçava a continuidade da existência do país”.

Sem saída

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Nem democratas nem republicanos têm interesse em prolongar o julgamento. Para os republicanos, o caso expõe fraturas dentro do partido, já que muitos congressistas da legenda endossaram as acusações de fraude feitas por Trump. Além disso, o impeachment revive o ataque ao Capitólio promovido por extremistas e seguidores de teorias da conspiração que se identificam com o Partido Republicano, uma sombra para a ala moderada. 

Já os democratas sabem que o impeachment dificilmente vai adiante e querem liberar a pauta para a agenda política de Biden, que vem trabalhando pela aprovação de um pacote de socorro econômico para combater os efeitos da pandemia de covid-19.

A Casa Branca tem tentado manter distância da turbulência política. Em coletiva hoje, a porta-voz da presidência, Jen Psaki, afirmou que Biden “não gastará muito tempo assistindo” a sessão de impeachment de Trump. 

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“Biden concorreu contra ele (Trump) porque achou que ele era impróprio para o cargo e o derrotou. E é por isso que Trump não é mais presidente. Portanto, acho que as opiniões dele sobre o ex-presidente são bastante claras. Mas ele deixará a cargo do Senado este processo de impeachment”, afirmou a porta-voz.

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