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Democratas têm votação expressiva pelo correio

Campanha republicana mostra preocupação com pouca adesão de eleitores de Trump

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Os eleitores democratas que solicitaram cédulas – e já enviaram o voto pelo correio – superam em muito o número de republicanos nos principais Estados americanos, deixando em alerta a campanha de Donald Trump, indicando que os ataques do presidente à votação por correspondência podem estar prejudicando suas chances na eleição. 

 Dos mais de 9 milhões de eleitores que solicitaram cédulas pelo correio até segunda-feira nos Estados da Flórida, Pensilvânia, Carolina do Norte, Maine e Iowa – os cinco onde esses dados estão disponíveis –, 52% eram democratas, 28% eram republicanos e 20% não eram filiados a partidos. Dados coletados por democratas e republicanos, obtidos pelo Washington Post, mostram uma tendência semelhante em Ohio, Minnesota, New Hampshire e Wisconsin.

Funcionários dos correios de um condado de Nebraska preparam envio de cédulas para apuração Foto: AP Photo/Nati Harnik

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Ainda mais alarmante para alguns republicanos é que os democratas também estão enviando seus votos em taxas mais altas do que os eleitores republicanos em dois dos Estados onde essa modalidade está disponível: Flórida e Carolina do Norte, que são cruciais na eleição. 

A liderança democrata no voto por correspondência até agora tem sido assunto de discussões internas entre os estrategistas republicanos, de acordo com pessoas familiarizadas com as conversas. “As margens são impressionantes. É má notícia para todos os candidatos republicanos”, disse Whit Ayres, veterano de campanhas republicanas. 

O Partido Republicano está focado em tirar de casa para votar os eleitores no dia da eleição. Mas, segundo Ayres, os mais velhos, que sempre apoiaram os candidatos republicanos, estão mais preocupados com a pandemia e podem decidir não sair no dia da eleição, se o surto se intensificar. 

A tendência atual começou depois que Trump passou a atacar o voto pelo correio, dizendo que ele pode ser facilmente fraudado – os ataques afetaram os eleitores republicanos, segundo mostram as pesquisas. Os candidatos locais, com medo de perder um eleitorado cativo, passaram os últimos meses tentando tranquilizar os eleitores de que votar pelo correio é seguro, apesar do que diz o presidente.

A desconfiança do eleitor republicano no voto pelo correio parece estar se transformando em vantagem para Joe Biden e para os democratas que disputam vagas no Senado em Maine, Iowa e Carolina do Norte.

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Os democratas dizem que a vantagem pode diminuir se seus eleitores não enviarem pelo correio as cédulas requisitadas ou se os republicanos contestarem com sucesso um grande número de votos por correspondência durante a apuração, como prometeram fazer.

Em privado, porém, muitos republicanos reconhecem que os números preocupam e disseram que estão trabalhando para reverter a tendência. “É astronômica (a diferença)”, disse um estrategista republicano envolvido nas disputas pelo Senado, que disse estar “horrorizado” com a discrepância. Assim como outros entrevistados, ele pediu para não ser identificado. “Veja os números na Carolina do Norte. Como você pode não se preocupar?”

O Comitê Nacional Republicano (RNC) está tentando recuperar o terreno perdido, recrutando aliados membros da família Trump, como a nora do presidente, Lara Trump, para gravar ligações e pedir aos eleitores que votem pelo correio.

Michael McDonald, cientista político da Universidade da Flórida, que monitora a votação por correspondência, observou que, em alguns Estados, o número de votos já se aproxima de 10% do total de voto de 2016. Segundo ele, o comparecimento pode superar o de quatro anos atrás, antes mesmo de chegar o dia da eleição. 

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“Na Carolina do Norte e na Geórgia, por exemplo, 1 em cada 5 eleitores que já votaram nem participou em 2016”, disse McDonald. Os pedidos de votação pelo correio aumentaram astronomicamente em dezenas de Estados. Em Michigan, o número chega a 350%, em comparação com 2016. Na Carolina do Norte, 17 vezes mais pessoas solicitaram cédulas do que na eleição passada. Em Wisconsin, os pedidos aumentaram 12 vezes.

“O fato de mais democratas terem não apenas solicitado, mas também enviado as cédulas, é uma reversão da tendência de eleições anteriores”, disse McDonald. Isso pode significar duas coisas, segundo ele: que os democratas estão mais entusiasmados ou que os republicanos não estão votando em razão dos temores de fraude.

“Pode ser que dêem ouvidos a Donald Trump e, mesmo pedindo a cédula para votar pelo correio, eles votem pessoalmente, se é que vão votar", disse ele.

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Além disso, em relação ao observado em 2016, o eleitorado mais jovem representa uma parcela muito menor daqueles que já mandaram seus votos até o momento - com isso, ele acredita que grande parte dos jovens, cuja maioria defende Biden, votará mais perto do dia 3 de novembro ou na própria data da eleição.

“Não posso afirmar com certeza que isso vai ocorrer", ele acrescentou. “Mas tudo que ocorreu nas duas décadas mais recentes, e o nosso entendimento de como as pessoas votam, foi colocado de pernas para o ar nessa eleição."

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Houve época em que os republicanos levavam vantagem na votação pelo correio. Ayers, pesquisador de opinião republicano e crítico do presidente, disse que a retórica de Trump em relação à votação pelo correio minou décadas de trabalho dos republicanos nessa área.

“É o que fazemos melhor!" disse Ayers, frustrado. “Dominamos a arte de rastrear pessoas que relutariam em participar da votação presencial e incentivá-las a usar cédulas de voto em ausência. É parte do que fizemos bem no passado."

Ele destacou que a campanha atual do Partido Republicano para promover a votação pelo correio contraria a retórica de Trump.

“Já vi esses apelos a prováveis eleitores republicanos - ‘Solicite sua cédula para votar em ausência’. Mas, ao mesmo tempo, esses eleitores ouvem do seu presidente que o voto pelo correio é um convite à fraude", disse ele.

Funcionários do Partido Republicano disseram esperar que a disputa se equilibre quando o voto presencial antecipado entrar amplamente em vigor, e também no próprio dia da eleição.

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Pesquisas de opinião mostram que eleitores de Trump se mostram mais dispostos a ir às urnas no dia da eleição em meio à pandemia. Em todo o país, 82% dos eleitores registrados que defendem Biden se dizem muito ou consideravelmente preocupados com a possibilidade de um parente contrair o coronavírus, sendo que entre os eleitores de Trump essa proporção é de 39%, de acordo com pesquisa realizada este mês pelo Washington Post com a ABC News.

Uma das vantagens de contabilizar os votos antecipadamente é o fato de uma parcela menor do eleitorado continuar sujeita a uma mudança de opinião. Em 2016, as pesquisas de intenção de voto mostrando a candidata democrata Hillary Clinton à frente em vários Estados disputados a essa altura da corrida, mas a vantagem dela encolheu até finalmente desaparecer em Estados importantes com o passar de outubro.

De maneira semelhante, as campanhas podem acompanhar quais eleitores já votaram e cortá-los da lista de alvos de campanhas de propaganda e motivação para o comparecimento às urnas. Se as tendências na votação pelo correio seguirem beneficiando os democratas, isso significa que Biden, já dono de uma vantagem de recursos em relação a Trump, poderá concentrar seus gastos em uma parcela menor do eleitorado, possivelmente obtendo resultados melhores.