Denúncias de pedofilia são abafadas desde 1985 pela Igreja

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Por Agencia Estado
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A onda de denúncias de pedofilia nos Estados Unidos começou em 1985, depois que um padre de Louisiana foi condenado a 20 anos de prisão por molestar sexualmente dezenas de garotos. Desde então os escândalos não pararam. A tática adotada pelas dioceses para contornar o problema vinha sendo a mesma: suspender o padre de suas funções e submetê-lo a tratamento médico, enquanto às vítimas eram oferecidos cuidados psicológicos e pastorais. Assim tirou-se o assunto das páginas dos jornais. Nos bastidores, porém, as vítimas continuavam a aparecer. Com o talão de cheques numa das mãos e acordos de confidencialidade na outra, a hierarquia da Igreja norte-americana tentava contornar a situação. A estratégia acabou indo por água abaixo porque, depois do período de quarentena, os padres eram destinados a postos em outras regiões. Aproveitando a deixa, o padre John Geoghan, hoje com 66 anos, foi de paróquia em paróquia fazendo estragos nos meninos que encontrou pelo caminho. Resultado: a maneira desastrosa como o problema foi conduzido, ameaça agora cabeças coroadas, como a do cardeal de Boston, Bernard Law, que está sendo pressionado a renunciar. Mas nem todo mundo vê no assunto o bicho-de-sete-cabeças que foi pintado. Para o professor Philip Jenkins, da Universidade da Pensilvânia, não existem evidências de que um padre seja mais propenso a esse tipo de prática sexual do que qualquer outro indivíduo. Em entrevista à Agência Estado, ele disse que não vê nos problemas atuais uma crise do celibato que há séculos serve à doutrina da Igreja. "Os piores casos de abusos sexuais que se conhecem, entre religiosos, são praticados por não-católicos." Segundo Jenkins, toda ordem religiosa tem sua cota de escândalos. De fato, uma diocese anglicana do Canadá está à beira da falência por causa de processos provocados por décadas de abusos sexuais. E, que se saiba, anglicanos sequer são celibatários. Há 20 anos estudando o tema, Jenkins tem várias pesquisas. Uma delas examinou todos os padres que serviram a arquidiocese de Chicago nos últimos 40 anos, cerca de 2.200. Apenas 40, 1,8%, foram considerados culpados de conduta suspeita. E somente um era pedófilo. Jenkis, autor do livro O Mito do Padre Pedófilo (Oxford University Press, 1996), diz que na crise atual esqueceu-se de fazer distinção entre pedófilos e acusados de fazer sexo com rapazes de 16 ou 17 anos. "Atos desse tipo podem até ser considerados imorais e pecaminosos, mas não abusos, uma vez que foram praticados com o consentimento do menor envolvido." O erro maior, na opinião de Jenkins, foi da hierarquia da Igreja, ao esconder por tanto tempo os pecados sexuais do seu clero. "O que não quer dizer que a Igreja esteja metida numa conspiração para esconder sacerdotes perversos." Ao contrário. Os processos continuam em andamento e vários sacerdotes estão na cadeia, dois dos quais condenados à prisão perpétua.

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