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Departamento de Justiça questionará agentes da CIA

Oposição teme que secretário William Barr busque nova narrativa para a investigação sobre interferência da Rússia na eleição de 2016

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Por Beatriz Bulla , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

O Departamento de Justiça dos EUA pretende interrogar agentes da CIA para rever o material coletado sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016. A revelação foi feita nesta quinta-feira pelo jornal New York Times, que confirmou com fontes ligadas ao caso que a intenção é questionar os agentes sobre a interferência do presidente da Rússia, Vladimir Putin, com intuito de beneficiar Donald Trump.

Presidente Donald Trump Foto: REUTERS/Kevin Lamarque

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 A oposição teme que o secretário de Justiça, William Barr, pretenda desconstruir a investigação. Barr já foi acusado de distorcer as conclusões do procurador especial Robert Mueller sobre a participação de Trump em um conluio com a Rússia e de poupar o presidente ao não processá-lo por obstrução de Justiça.

Em maio, Trump deixou claro que Barr deveria analisar o que a CIA sabe sobre a investigação. A decisão de interrogar os agentes foi a prova de que o secretário de Justiça colocará em prática a missão. O Departamento de Justiça ainda não encaminhou os pedidos de forma oficial para os agentes. 

A diretora da CIA, Gina Hasperl, avisou aos funcionários que a ordem é cooperar, mas continuar a proteger assuntos de inteligência que sejam sensíveis e possam revelar fontes de informações. Em entrevista à Fox News, Barr afirmou, em maio, que queria analisar se funcionários do governo praticaram abuso de poder.

Há quatro meses no cargo, Barr tem sido fiel a Trump, o que provoca questionamentos sobre sua independência. Ele assumiu o posto de secretário de Justiça depois da demissão de Jeff Sessions, de quem Trump reclamava dizendo que fazia uma “caça às bruxas” na supervisão da investigação sobre a Rússia. 

Há pouco menos de uma semana, durante a formatura de novos agentes do FBI, Barr comparou sua chegada ao cargo ao Dia D, na 2.ª Guerra. “Foi como se eu estivesse entrando em Sainte-Mère-Église (França) na manhã de 5 de junho (de 1944), tentando descobrir onde posso pousar sem ser alvejado”, afirmou.

Tido como favorito entre os pré-candidatos democratas na eleição de 2020, Joe Biden, que já elogiou Barr no passado, pediu a renúncia do secretário, argumentando que ele perdeu a confiança dos americanos. 

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Na última semana, o Departamento de Justiça teve de costurar um acordo com os deputados para evitar uma acusação de desacato de Barr ao Congresso, por ele não ter cumprido intimações dos deputados. Em troca, ele aceitou cooperar com os congressistas e entregar algumas provas coletadas na investigação sobre a influência russa.

A revisão do material coletado pela CIA despertou ainda mais atenção ontem, depois que Trump disse não ver problema em aceitar informações da Rússia ou de qualquer governo estrangeiro contra rivais nas eleições de 2020. Ele afirmou que só avisaria o FBI se notasse que há algo errado, o que foi interpretado por parte dos analistas em Washington como um “convite” para que a Rússia volte a atuar nas eleições americanas.

“Se Barr está tentando desacreditar a investigação russa – e a validade da conclusão do procurador especial, Robert Mueller, de que o esforço da Rússia foi planejado para eleger Trump, isso pode ter consequências danosas, considerando que Trump já efetivamente fez um novo convite para outro ataque russo”, escreveu ontem o colunista Greg Sargent, no Washington Post

Segundo ele, é preciso colocar a ação de Barr sob novo escrutínio. Em entrevista ao colunista, o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados, o democrata Adam Schiff afirmou que o único objetivo de Barr é proteger o presidente, “investigando seus críticos”. De acordo com ele, a Câmara pretende monitorar o trabalho do Departamento de Justiça.

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