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Depois de conter extrema direita, UE deve ter 'batalha pelo poder'

Manfred Weber, deputado do Partido Popular Europeu (EPP) - que tem a maior bancada no Parlamento Europeu -, é favorito para comandar a Comissão Europeia até 2024; se não tiver apoio de 21 dos 28 países, outros partidos disputarão o cargo

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Por Redação
Atualização:

BRUXELAS - Partidos e dirigentes europeus se preparam nesta segunda-feira, 27, para disputar os cargos mais importantes do bloco, após eleições ao Parlamento Europeu que confirmaram o fim do bipartidarismo e um avanço contido dos eurocéticos de extrema direita.

Os eleitores concederam ao Partido Popular Europeu (EPP, de centro-direita) uma vitória com 180 dos 751 eurodeputados em jogo. Está longe da maioria, porém, que não poderá ser alcançada apenas com seu aliado tradicional, os social-democratas (S&D, de centro-esquerda), que conquistaram 146 cadeiras.

O alemão Manfred Weber (E), deputado do Partido Popular Europeu (PPE), é um dos favoritos para presidir a Comissão Europeia até 2024 Foto: EMMANUEL DUNAND / AFP

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"Nenhum grupo político é forte o suficiente para impor seu candidato", explicou Sébastien Maillard, do Instituto Jacques Delors, para quem "o jogo está aberto", e as lideranças querem disputá-lo sem amarras.

As discussões se anunciam complexas. Os chefes de Estado e de governo dos 28 países, que se reúnem na terça-feira para uma primeira discussão com base nos resultados, já iniciaram seus contatos para decidir quem vai liderar a União Europeia (UE) pelos próximos cinco anos.

O presidente francês, o liberal Emmanuel Macron, deve jantar nesta segunda com o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, depois de ter conversado no domingo com a chanceler alemã, a conservadora Angela Merkel.

Os diferentes grupos políticos se reúnem nesta segunda, em Bruxelas, para contar suas forças. Na manhã de terça, antes da cúpula, seus presidentes devem tratar dos próximos passos.

O sistema de eleição do próximo titular da Comissão Europeia, a joia da coroa dos altos cargos em disputa, concentrará as primeiras discussões tanto dos líderes, quanto dos partidos, o que anuncia uma queda de braço institucional.

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Antes das eleições, a o Parlamento decidiu que o candidato designado pelos presidentes - e que, na sequência, deverá ser validado pelos eurodeputados - faça parte das cabeças de listas lideradas pelos diferentes grupos europeus no pleito.

O EPP reivindicou, assim, a presidência da Comissão para seu candidato Manfred Weber, que, por sua vez, disse esperar que o Parlamento Europeu "confirme nos próximos dias" seu compromisso com este sistema conhecido como "Spitzenkandidat".

48 horas de Weber

Apesar de clamar a vitória, não é fácil chegar à cúpula do Berlaymont, sede da Comissão Europeia, em Bruxelas. Após as eleições, "Weber dispõe de 48 horas para conseguir ser designado", explicou uma fonte europeia, antes da votação.

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Alvo de críticas do restante dos partidos pró-europeus por manter em suas fileiras o líder populista húngaro, Viktor Orban, o EPP deve tentar compor uma maioria com os social-democratas, mas também com os liberais (do Alde), ou os Verdes.

"O novo equilíbrio de poder na Eurocâmara exige um candidato a presidente da Comissão que possa construir uma maioria sólida", disseram em comunicado os liberais, terceira força com 109 eurodeputados - aumento de 40 cadeiras.

A outra incógnita será o nível de apoio dos nove líderes do EPP que se sentam no Conselho Europeu e, especialmente, o de Merkel. A expectativa é que reiterem seu apoio a Weber antes da cúpula.

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"Sem seu forte apoio, não tem chance", segundo Janis Emmanouilidis, analista do European Policy Centre, lembrando que Merkel apoiou Weber durante a campanha, mas não o sistema de "Spitzenkandidat".

Se o candidato do PPE não conseguir o apoio de pelo menos 21 dos 28 presidentes do Conselho, cujos países representem pelo menos 65% da população da UE, fracassará em sua tentativa de presidir a Comissão e abrirá o jogo para outros aspirantes.

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O candidato social-democrata Frans Timmermans, que tem Sánchez como aliado no Conselho, ou a liberal Margrethe Vestager, pode jogar suas cartas, mas os líderes podem designar alguém que não seja um "Spitzenkandidat".

As forças pró-europeias terão, contudo, o caminho aberto para manter o controle dos postos que interessam na UE. Os três grupos eurocéticos, sejam populistas, sejam de extrema direita, conquistaram 171 eurodeputados, bem abaixo da maioria de 376 cadeiras.

Deve ser ainda mais complicado para estes últimos se unir em torno de um único grupo e organizar uma frente comum de oposição na UE nos próximos cinco anos, apesar das sonoras vitórias da extrema direita na França e na Itália.

"A extrema direita não será grande o suficiente para bloquear a legislação (...) E, considerando-se sua desunião, sempre precisará de uma das grandes forças para fazer algo", afirmou Pelle Christy, da consultoria Euraffex. / AFP

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