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Deputado no Chile discursa por 15 horas para aumentar chance de impeachment de presidente

O socialista Jaime Naranjo leu 1.300 páginas para dar tempo a Giorgio Jackson, isolado por causa de suspeita de covid-19, chegar para a votação

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Por Redação
Atualização:

O deputado chileno Jaime Naranjo, do Partido Socialista (PS), planejava discursar até o dia seguinte numa manobra pelo impeachment do presidente do Chile, Sebastián Piñera. O líder, que deixa o poder em março, é acusado num escândalo revelado pelo Pandora Papersuma investigação baseada em mais de 11,9 milhões de documentos que revelam os fluxos de dinheiro, propriedades e outros ativos ocultos no sistema financeiro offshore.

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Na madrugada desta terça, 9, Naranjo cumpriu seu plano: ele discursou por quase 15 horas para possibilitar a chegada do congressista Giorgio Jackson, que estava em quarentena devido a uma suspeita de covid-19. A oposição de centro-esquerda precisa dos votos de 78 dos 155 deputados para que o processo siga para o Senado.

Os opositores têm 83 cadeiras na Câmara, mas alguns dos deputados estão em quarentena em razão de terem testado positivo para a covid-19 - incluindo o candidato socialista, Gabriel Boric.

Deputado chileno Jaime Naranjo (c), doPartido Socialista, durante a intervenção que durou 15 horas. Foto: EFE/ Johanna Câmara de Deputadas e Diputados do Chile

O voto de Jackson pode ser decisivo para que se alcance o número de votos necessário para que o impeachment avance - o que explica a maratona de Naranjo. 

Após concluir seu isolamento à meia-noite, Jackson saiu em seu carro de Santiago para Valparaíso, onde fica o Congresso. Ao entrar na Câmara dos Deputados, ele abraçou o deputado veterano.

Naranjo, um deputado veterano de 70 anos, começou na manhã da segunda-feira, 8, um discurso de 1.300 páginas sem precedentes que incluía os motivos da acusação apresentada em 13 de outubro por todas as bancadas da oposição para remover o presidente conservador quatro meses abtes de concluir seu segundo mandato (2018-2022).

Opositores acusam o presidente Piñera por seu envolvimento na venda da mineradora Dominga nas Ilhas Virgens, paraíso fiscal revelado nos Pandora Papers. 

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Piñera afirma que não soube da venda até o fim de seu primeiro mandato, que todos os impostos foram devidamente pagos e que os fatos já prescreveram.

É o segundo caso de impeachment do atual mandato de Piñera - ele escapou da primeira acusação, de ter cometido crimes de violação de direitos humanos em meio aos protestos de outubro de 2019.

“Nunca na história deste país um Presidente da República, no exercício do seu mandato, foi acusado de duas coisas tão graves como ter violado os direitos humanos e ter comprometido a honra da nação, por isso espero que esta Câmara aprove a denúncia", disse Naranjo após quase 15 horas de intervenção, já à 1h30 da manhã desta terça-feira.

Presidente do Chile, Sebastián Piñera, deixa cargo este ano Foto: Edgard Garrido/REUTERS

Após o discurso de Naranjo, o advogado do presidente Piñera, Jorge Gálvez, apresentou seus argumentos para replicar a acusação que pode durar várias horas.  O longo discurso provocou reações de todos os tipos nas redes sociais e a raiva da direita governante. "O que (Jaime Naranjo) está fazendo é usar uma instituição da República de uma forma bastante patética", disse Sebastián Torrealba, deputado da ala direita no poder.

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Com  a chegada de Jackson, a denúncia deve ser aprovada e o texto irá para o Senado, que tomará a decisão definitiva. Ele será impedido se a oposição obtiver o voto de 29 dos 43 senadores. Fontes chilenas indicam que essa possibilidade é remota.

O sucessor de Piñera começa a ser escolhido no primeiro turno da votação presidencial, dia 21. Analistas dizem que a votação do impeachment do presidente pode estar vinculada a uma estratégia da oposição esquerdista ante dois fatores que complicam a campanha da oposição às vésperas da eleição: a forte subida nas pesquisas do candidato de extrema direita, o neopinochetista José Antonio Kast, e a infecção pela covid-19 de Boric, que deve afastá-lo do esforço final pré-votação. /AFP e EFE

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