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Deputado ex-refém das Farc é acusado de ter armado sequestro de colegas

Reviravolta. Vídeo obtido por emissora de rádio mostra homem identificado como Sigifredo López dando dicas para rebeldes que planejaram a captura dos legisladores na Assembleia, em 2002; acusado foi o único sobrevivente de chacina que deixou 11 mortos

Por BOGOTÁ
Atualização:

O ex-deputado colombiano Sigifredo López, sequestrado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2002 com outros 11 colegas, é suspeito de ter colaborado com a guerrilha na ação que resultou na captura e morte dos legisladores. A emissora de rádio La FM afirmou ontem ter um vídeo no qual um homem - supostamente identificado como López - aparece passando informações aos guerrilheiros sobre como realizar o ataque.No vídeo, de 42 minutos, não é possível ver o rosto do homem em questão, mas, segundo a emissora, a voz é de López. O ex-deputado, de 45 anos, foi detido na quarta-feira à noite em Cali, capital do Departamento de Valle del Cauca, e foi transferido para Bogotá, onde aguarda para ser interrogado pelas autoridades.O arquivo com as imagens foi encontrado no computador de Guillermo León Sáenz, líder das Farc conhecido como "Alfonso Cano,morto numa ofensiva do Exército colombiano em 5 de novembro.Em abril de 2002, López e outros 11 deputados foram sequestrados durante uma sessão na Assembleia de Valle del Cauca, em Cali, numa operação cinematográfica (mais informações nesta página).Pouco mais de cinco anos depois, as Farc anunciaram a morte dos 11 deputados. López, que foi libertado em 2009, foi o único que sobreviveu porque, de acordo com sua versão, estava sendo mantido em um acampamento diferente.Segundo a La FM, no vídeo, o homem identificado como López expõe detalhes da estrutura da sede da Assembleia, além de informar quantos minutos são necessários para que se saia da sala onde os deputados se reuniam. O homem também detalha onde cada um dos deputados se sentava e a localização das câmeras de vigilância. A segurança do local, afirma ele no vídeo, é "muito baixa e vulnerável e nenhum dos deputados anda armado"."Ele diz aos chefes guerrilheiros que os políticos não têm esquemas fortes de segurança e ficam praticamente sozinhos e vulneráveis no salão porque, além dos deputados, só estavam no local algumas secretárias e assistentes", afirmou a emissora sobre as imagens obtidas. A rádio não disse como obteve acesso ao vídeo e a promotoria ainda não confirmou a existência da gravação.Revolta. Os parentes dos 11 deputados assassinados pela guerrilha se disseram "em choque" com a revelação do suposto envolvimento de López no sequestro. "Espero que isso seja uma confusão ou um erro", disse Diego Quintero, irmão do deputado Alberto Quintero, morto pela guerrilha."Nunca pensamos em nada disso, pois a família dele sempre esteve em contato conosco", afirmou Yolanda Narváez, irmã do deputado assassinado Juan Carlos Narváez. A mulher de Narváez, Fabiola Perdomo, diz acreditar na inocência de López."Não entra na nossa cabeça. Compartilhei com a família dele momentos muito doloridos e difíceis, de angústia. Mas mantenho o benefício da dúvida", disse Fabiola. "Mando minha solidariedade a ele (López) e à sua família. Até que a Justiça prove o contrário, acredito na inocência de Sigifredo."Além das imagens que incriminariam López, as autoridades colombianas contam também com o depoimento de diversos ex-guerrilheiros que afirmam que o ex-deputado participou do planejamento do sequestro de seus colegas.Entre essas declarações estão as de dois guerrilheiros desmobilizados que faziam parte do bloco das Farc que perpetrou a ação em Cali.Ontem, porém, o guerrilheiro Gustavo Arbeláez Cardona, conhecido como "Santiago" e chefe do bloco que realizou a ação, negou que o grupo tenha recebido ajuda externa para realizar o sequestro.Direto da prisão em Cómbita, Santiago disse ao jornal colombiano El Tiempo que ele coordenou pessoalmente a logística do sequestro e o plano de fuga, negando que López tivesse colaborado de algum modo com a ação. Santiago foi capturado em 2008 e sentenciado a 24 anos de prisão. / AP, AFP e EFE

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