Deputado propõe volta do serviço militar obrigatório nos EUA

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Por Agencia Estado
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O deputado Charles Rangel, democrata de Nova York, apresentou nesta terça-feira um projeto de lei que restabelece o serviço militar obrigatório para homens e cria um "serviço cívico" nacional alternativo para os cerca de 4 milhões de jovens norte-americanos de ambos os sexos que completam 18 anos a cada ano. São remotas as chances de aprovação da proposta como ela está formulada. O próprio Pentágono é contrário à idéia, argumentado que as forças armadas de 1,4 milhão de soldados profissionais e 1,1 milhão de reservistas, todos voluntários, dão ao país um aparato militar "experiente, inteligente, disciplinado e representativo da América". Mas a iniciativa de Rangel, que é mais uma tática para denunciar a guerra que o presidente George W. Bush prepara contra o Iraque, tocou num tema sensível e suscita intenso debate desde que ele a anunciou, em dezembro. Rangel, que representa o bairro negro de Harlem, é um crítico da atitude belicista da Casa Branca. Ele lembrou hoje que, entre os congressistas que aprovaram uma resolução autorizando Bush a usar a força contra o Iraque, no ano passado, apenas um tem filho nas forças armadas. Seu projeto de lei é co-patrocinado por um outro influente congressista negro, o deputado John Conyers Junior, de Michigan. "Eu acredito que, se aqueles que defendem a guerra soubessem que seus filhos têm boas chances de serem chamados a servir e serem colocados em situações de perigo, haveria mais cautela e uma maior disposição de trabalhar com a comunidade internacional na questão do Iraque", disse Rangel. "A volta do serviço militar obrigatório ajudaria os legisladores a fazer uma melhor apreciação sobre as conseqüências de decisões de ir à guerra." Os negros são 11% da população norte-americana, mas representam cerca de 20% do pessoal das forças armadas e 22% dos soldados rasos. As minorias raciais compõem aproximadamente 37% da tropa. Mas, segundo estudiosos do assunto, os brancos e os hispânicos são maioria na cavalaria e na infantaria, as duas especialidades mais diretamente expostas a combates em conflitos armados. Seja como for, pesquisas de opinião recentes mostram que apenas 20% dos negros americanos apóiam uma guerra contra Saddam Hussein, contra mais de 60% do conjunto da população. Os EUA instituíram o serviço militar obrigatório em 1940, mais de um ano antes de entrarem na Segunda Guerra Mundial, e o abandonaram em 1973, em meio aos protestos contra o desastrado envolvimento do país no Vietnã. Em 1979, quando a União Soviética invadiu o Afeganistão, o presidente Jimmy Carter ativou o Sistema de Serviço Seletivo, que prevê o alistamento obrigatório de todos os jovens do sexo masculino, aos 18 anos. Atualmente há cerca de 11 milhões de registrados, com idades entre 18 e 25 anos. Embora a lei autorize o governo a processar os que recusam o alistamento e multá-los em até US$ 250 mil, a punição nunca foi aplicada. A única conseqüência prática do não-alistamento é a inelegibilidade a certos benefícios, como bolsas de estudos financiadas pelo erário público. Um dos argumentos técnicos dos defensores da volta do serviço obrigatório é que ele ajudaria a resolver o problema de recrutamento e permanência de soldados que o Pentágono enfrenta. De cada três voluntários, um não completa o período inicial de dois anos de serviço. Essa relação era de um para dez nas forças armadas de conscritos. Mesmo sem chance de ser adotada, a proposta de Rangel abriu caminho para testar as possibilidades de outras iniciativas parecidas, num momento em que os EUA adotam uma nova doutrina de defesa, que prevê que o país ataque antes de ser atacado e aponta no sentido do engajamento norte-americano num maior número de conflitos armados. Os deputados republicanos Nick Smith, de Michigan, e Curt Weldon, da Pensilvânia, já anunciaram que reapresentarão na legislatura que se instalou hoje no Congresso um projeto de lei que cria o treinamento militar universal para os norte-americanos entre 18 e 22 anos, e um serviço civil nacional. Os defensores do serviço civil lembram que o governo federal destina anualmente mais de US$ 40 bilhões para financiar vários tipos de bolsas de estudos e apoiar programas em universidades sem nada exigir em troca dos beneficiários que, são, desproporcionalmente, os filhos da elite do país.

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