Deputados israelenses aprovam dissolução do Parlamento, e país fica mais perto de nova eleição

Projeto de lei, que ainda precisa de mais três votações, foi apoiado pelo ministro da Defesa, que acusa Netanyahu de manobrar para se manter no cargo por mais tempo que o acordado

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Por Redação
Atualização:

JERUSALÉM — O Parlamento israelense aprovou em votação preliminar nesta quarta-feira, 2, um projeto de lei que prevê a sua dissolução, o que pode levar o país a uma eleição antecipada — a quarta em dois anos. 

A medida foi apresentada pela oposição, mas recebeu apoio do ministro da Defesa, Benny Gantz, principal parceiro da coalizão de governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.

Benny Gantz, líder do partido Azul e Branco, na Knesset Foto: Bloomberg photo by Kobi Wolf

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O projeto, no entanto, necessita de mais três votações antes de se tornar, de fato, lei. Se isso ocorrer, serão convocadas eleições na sequência. Nesta quarta-feira, a medida recebeu 61 votos a favor e 54 contrários.

O projeto de lei foi apresentado pelo líder da oposição, Yair Lapid, que acusou o governo de não saber administrar a crise do coronavírus

Mas na terça-feira a iniciativa ganhou o apoio de Gantz, que adiantou que sua sigla, o centrista Partido Azul e Branco, votaria a favor da dissolução, em meio a uma crise na coalizão de governo por causa de um desacordo sobre a aprovação do Orçamento nacional.

Em abril deste ano, após a terceira eleição inconclusiva, Gantz fizera um acordo com Netanyahu, do Likud, de direita, para formar um governo de união nacional. Pelo acordo, os dois se revezariam na posição de chefe de governo, cada um por um período de 18 meses.

Agora, o ministro da Defesa acusa o premier de enganar a população em relação a uma disputa orçamentária. Segundo o site Ynet (versão on-line do jornal Yedioth Ahronot), Netanyahu e seus aliados estariam dispostos a votar apenas em uma versão de curto prazo do Orçamento de 2020, ao contrário do que exige o acordo de coalizão, que demanda um Orçamento de dois anos, incluindo 2021.

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Caso o Orçamento de longo prazo seja aprovado, o premier não terá mais o de 2021 como trunfo e será forçado a se comprometer com o acordo, levando Gantz a assumir como primeiro-ministro no próximo ano. Essa é justamente a acusação dos críticos do premier, de que ele está segurando as negociações para permanecer no poder.

Se a coalizão implodir, Netanyahu continuaria no cargo durante os três meses de campanha eleitoral e até que uma nova coalizão seja formada.

Segundo o Ynet, atrasar as negociações orçamentárias poderia beneficiar Netanyahu de outras maneiras. O atraso daria mais tempo para a chegada de uma vacina contra a covid-19 no país e de a economia começar a se recuperar, o que pode fortalecer o premier nas eleições.

Ainda na terça-feira, Gantz avisara que voltaria atrás caso Netanyahu concordasse em aprovar o Orçamento para os próximos dois anos.

“Netanyahu, o ônus da prova é seu. Apresente imediatamente o Orçamento ao governo, certifique-se de aprová-lo e garantir a unidade”, declarou.

Antes de o ministro da Defesa anunciar na terça-feira que apoiaria o projeto de lei, o premier postou um vídeo no Twitter instando seu parceiro a votar contra a iniciativa da oposição.

“Agora não é hora de eleições. Agora é hora de unidade”, disse Netanyahu.

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Surgida depois de três eleições em que nem o bloco liderado pelo Likud e nem o liderado pelo Azul e Branco alcançaram a maioria das cadeiras, a atual coalizão de governo israelense foi atormentada desde o início por lutas internas e recriminações.

O governo de unidade tinha como objetivo, em parte, fornecer estabilidade a Israel após a maior crise política de sua História e à medida que a pandemia do coronavírus se acelerava. 

No entanto, ele provocou controvérsia porque, à época, Netanyahu havia acabado de ser formalmente acusado de corrupção. Agora, o premier mais longevo de Israel, no poder desde 2009, também enfrenta acusações relacionadas à suspeita de superfaturamento no caso da compra de quatro submarinos da Alemanha.

O acordo entre os partidos incluía várias cláusulas que levariam ao colapso automático da coalizão, incluindo a incapacidade de aprovar um Orçamento. /AFP, Reuters

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