Derrota do governo abre luta dentro do peronismo

Depois do fracasso eleitoral, líderes dissidentes tentam tirar dos Kirchners o controle do partido

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Por Ariel Palacios
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Desde segunda-feira, o Partido Justicialista (peronista) passa por mais uma batalha interna. O ex-presidente Néstor Kirchner, marido da presidente Cristina, foi a primeira vítima e apresentou sua renúncia à presidência peronista após a derrota nas eleições parlamentares. Cerca de 70% dos argentinos votaram contra o governo. Diversos setores do peronismo, entre eles a ala próxima ao ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003), aguardavam a disputa interna. Eles ficaram alijados do poder durante o governo dos Kirchners e agora articulam a volta ao comando. O poder do casal Kirchner está se esvaziando rapidamente. Governadores peronistas que até domingo - dia da votação - eram aliados do casal, desde segunda-feira passaram a criticar o governo. "Era uma morte anunciada", afirmou ao Estado a socióloga Graciela Römer. Esses setores descontentes do peronismo exigem uma convenção partidária, reunião que não ocorre na legenda desde 1988. Eles afirmam que é preciso tomar medidas rápidas para evitar que a oposição cresça. Kirchner havia posto um de seus principais aliados, o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, na presidência do partido. Mas Scioli também saiu derrotado das eleições e está enfraquecido. "É muito estranho que um derrotado comande o peronismo", disse o senador Carlos Reutemann, vencedor na eleição para governador da Província de Santa Fé e um provável candidato a presidente em 2011. Para complicar o cenário dos Kirchners, Duhalde encerrou uma visita à Espanha e retornou à Argentina "para trabalhar e reordenar o peronismo", disse Carlos Brown, assessor do ex-presidente. Muitos peronistas estariam afastados da legenda, "por isso é preciso uma mudança ideológica profunda", afirmou Brown. Kirchner, após tomar posse na presidência, em maio de 2003, marginalizou Duhalde, considerado seu padrinho político. Analistas afirmam que Duhalde esperava um momento de fragilidade para retornar ao cenário político. Ele aguardou seis anos. Há poucos meses, articulou as alianças que deram ao peronista dissidente Francisco de Narváez a vitória para o governo da Província de Buenos Aires. Kirchner também está perdendo o apoio das entidades sindicais. Gerónimo Venegas, homem de peso na Confederação Geral do Trabalho (CGT), pediu o afastamento de Scioli da presidência do peronismo para que o partido "possa se reorganizar após a derrota". O atual secretário-geral da CGT, o aliado de Kirchner Hugo Moyano, também começou a ser questionado por sindicalistas, que pretendem se distanciar dos derrotados. Informalmente, eles confessam desejar um comando para a CGT que não seja kirchnerista.

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