Derrota eleitoral de Trump ameaça domínio republicano no Congresso

A um ano das eleições para renovar parte do Senado e da Câmara, republicanos saem derrotados em importantes Estados e municípios; analistas acreditam que desempenho do presidente americano em seu primeiro ano de mandato afetou resultado

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington 
Atualização:

Eleitores de dois Estados americanos entregaram a candidatos democratas vitórias avassaladoras na terça-feira, no que foi interpretado por analistas como uma rejeição ao “trumpismo”, um ano depois da vitória de Donald Trump na disputa presidencial. Os resultados preocuparam o Partido Republicano. Muitos temem que seja um prenúncio para a eleição de meio de mandato no próximo ano, quando estarão em jogo a Câmara dos Deputados, parte do Senado e governos de 36 Estados.

+Democratas derrotam candidatos de Trump e vencem governos de New Jersey e Virgínia Foram eleitos representantes marcados pela diversidade, entre os quais dois transgêneros, uma lésbica e o primeiro prefeito sikh do país. “A eleição foi em parte um repúdio a Donald Trump”, disse Ravi Perry, cientista político da Universidade da Commonwealth da Virgínia. “Muita gente se arrependeu de não ter votado no ano passado.” 

Partidários de De Blasio, que fez da diversidade um bandeira de campanha, celebram em Nova York Foto: Jewel SAMAD/AFP

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Segundo ele, o número de eleitores que foi às urnas na Virgínia superou em 15% o registrado há quatro anos. O maior aumento ocorreu no que Perry chama de “coalizão Obama”: negros, jovens e mulheres. “Isso é o que acontece quando as pessoas votam”, escreveu o ex-presidente democrata no Twitter.

A Virgínia é um dos Estados-pêndulo que oscilam entre democratas e republicanos e são cruciais na definição das disputas presidenciais. No ano passado, Hillary Clinton venceu a disputa no Estado por uma diferença de 5,4 pontos porcentuais. 

Na terça-feira, o candidato democrata a governador, Ralph Northam, derrotou o republicano Ed Gillespie com uma vantagem de 9 pontos. Os republicanos viram sua maioria de 32 cadeiras na Assembleia Legislativa da Virgínia ser quase dizimada em uma votação. Em New Jersey, a distância foi de 13 pontos, semelhante à registrada na eleição presidencial.

Pouco depois da divulgação do resultado, Trump tentou se dissociar do representante de seu partido. “Ed Gillespie trabalhou duro, mas não abraçou a mim nem o que eu represento”, escreveu no Twitter. Trump declarou apoio ao republicano nas mídias sociais e gravou mensagens transmitidas a eleitores por telefone. 

Pesquisas de boca de urna confirmaram sua influência: 57% dos que foram às urnas desaprovam seu trabalho. Nesse grupo, 87% escolheram o candidato democrata. Expressar oposição a Trump motivou 34% dos que votaram e 97% deles escolheram Northam. Só 17% disseram que foram às urnas para manifestar apoio a Trump.

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Gillespie integra o establishment do partido, mas promoveu posições similares às do presidente: vinculou latinos à criminalidade, criticou jogadores de futebol americano que se ajoelham durante a execução do hino nacional e defendeu a manutenção de monumentos que homenageiam militares que comandaram o Exército Confederado do Sul contra o Norte durante a Guerra Civil dos EUA.

Relembre: Manifestação em Charlottesville termina com um morto

A questão racial ganhou relevância na disputa depois que defensores da supremacia branca escolheram uma das cidades da Virgínia, Charlottesville, para protestar contra a remoção de estátuas de generais confederados, em agosto. A manifestação terminou em violência e no assassinato de Heather Heyer, de 32 anos. 

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“A maior explicação é a reação a Trump e o trumpismo, pura e simples”, escreveu no Twitter o cientista político Larry Sabato, que dirige o Centro para Política da Universidade da Virgínia. Segundo ele, os republicanos terão de obter vitórias legislativas em âmbito federal se quiserem ser bem-sucedidos na disputa do próximo ano. A principal candidata é a proposta de reforma tributária.

Em entrevista à CNN, o deputado republicano da Virgínia Scott Taylor afirmou que a eleição como um “referendo” sobre o governo Trump. O parlamentar culpou a retórica sectária do presidente pela derrota de seu partido.