CARACAS - O desabastecimento de produtos básicos na Venezuela chegou ao setor de material escolar. Uma reportagem do jornal El Carabobeño de ontem afirmou que não há suprimento suficiente para suprir a demanda nacional – a escassez afeta 85% dos itens necessários para os estudantes, segundo a publicação.
A reportagem afirma que a explicação para esse cenário está no fato de que 90% das linhas de produção estão paralisadas, somado à queda de quase 100% das importações desses produtos. A população já enfrenta o desabastecimento de alimentos e outros itens básicos de consumo, juntamente com a escassez de medicamentos e insumos hospitalares.
De acordo com a reportagem, o mercado exibe o pouco da mercadoria que já chegou com atraso. Nas prateleiras, afirma o jornal, há alguns itens adquiridos recentemente, mas com preços 500% mais caros devido ao emprego da taxa livre do dólar diante da impossibilidade de se fazer transações comerciais com as taxas oficiais.
A Venezuela tem um complexo sistema de bandas cambiais que envolve o dólar preferencial a 6,3 bolívares, usado nos contratos do governo e na importação de alimentos e remédios, o Sicad, a 12 bolívares, para a iniciativa privada, e o Simadi – além do câmbio paralelo, cotado a cerca de 600 bolívares.
Em meados de junho, o Ministério do Comércio havia prometido um leilão especial do Sicad para o setor, o que não ocorreu. O presidente da Câmara Venezuelana da Indústria da Educação e de Materiais de Escritório (Caveo), Luis Scarccioffo, reiterou ao jornal que a entidade não foi convocada para nenhum processo de oferta de divisas. Segundo ele, este ano, o setor só recebeu dólares de concessões de 2013 e 2014.
Diante desse cenário, ainda há a paralisação de novas linhas de produção, causando uma escassez que deverá ser ainda mais forte no próximo mês, e preços muito acima do esperado dos poucos produtos que restam, como prevê o Carabobeño.
Como exemplos, a publicação afirmou que a resma de papel A4, há menos de um ano, custava 500 bolívares e agora é vendida a 2,8 mil bolívares em alguns estabelecimentos. Os cadernos passaram de 80 bolívares para até 650 bolívares. O cenário se traduz também na baixa qualidade dos produtos oferecidos aos estudantes. Para atender à demanda do atual ano escolar, a indústria do setor alega que precisaria de pelo menos US$ 200 milhões.
Notas. Na semana passada, o Banco Central anunciou que abriria uma licitação internacional para adquirir papel de impressão de cédulas diante da escassez de notas de alto valor no país.
A falta de notas de 50 e 100 bolívares se acentuou nas últimas semanas por causa das distorções da alta inflação. Em 2014, ela alcançou 68,5%, de acordo com a última cifra oficial divulgada. / COM AFP