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Descentralização das decisões dá força ao movimento estudantil chileno

Na avaliação do presidente da Federação dos Estudantes Universitários do Chile, jovens ganharam respaldo por tocaram em questões sensíveis a todos

Por Agencia Estado
Atualização:

A união alcançada pelos estudantes secundaristas chilenos ao longo da recente jornada de manifestações deve-se, em grande medida, à falta de uma liderança que centralize a tomada de decisões. Acostumado à dinâmica do movimento estudantil, o presidente da Federação dos Estudantes Universitários do Chile (Fech), Nicolás Grau, admite que seus "companheiros" mais novos - muitos deles com não mais do que 16 anos - conseguiram um modelo organizacional mais representativo do que o alcançado pelos universitários. "As decisões são tomadas dentro dos colégios, em assembléias formadas por todos", explica, acrescentando que o voto dos alunos é levado em seguida à Associação de Coordenadores de Estudantes Secundários. Líder de uma das organizações que engrossaram as fileiras dos "pingüins" - assim são chamados os alunos do ensino médio chileno, em referência a seus uniformes -, Grau argumenta que esse caráter apartidário do movimento foi importante para que as reivindicações dos estudantes não se perdessem em meio a brigas e rachas internos. O líder da Fech destaca também a capacidade de mobilização dos estudantes. "Nenhum outro movimento social do Chile tem essa capacidade massiva como o movimento estudantil", afirma. Segundo ele, isso se deve às especificidades da sociedade chilena. "Os setores médios foram os que mais sofreram com a precarização do ensino no Chile. Assim, é natural que essas pessoas expressem sua indignação", explica. Violência "compreensível" Por isso, embora condene abertamente a atitude dos manifestantes que na segunda-feira saquearam lojas do centro de Santiago, ele diz compreender a atitude violenta dos jovens que entraram em confronto direto com a tropa de choque nas manifestações da semana passada. "Quando três ou quatro mil pessoas se manifestam violentamente, como ocorreu na última terça-feira, então estamos diante de um problema social. Porque quando isso acontece, o que se expressa são as fissuras de um modelo no qual a desigualdade social está se fazendo bastante patente. Nós não compartilhamos dessas manifestações, mas as compreendemos." Bachelet Quanto à relação do movimento estudantil com o governo socialista da presidente Michelle Bachelet, Grau parece otimista diante das respostas da administração para a crise. Para ele, a contraproposta apresentada por Bachelet no final da semana passada "foi um esforço importante do governo para solucionar os problemas mais conjunturais, que tinham a ver com as demandas econômicas dos estudantes". Entre as medidas anunciadas pela presidente, estão o passe livre para todo jovem que precise de transporte público gratuito, bolsas de estudos para 155 mil estudantes e um projeto para modificar a Lei Orgânica Constitucional de Ensino (Loce). E é exatamente neste último ponto que começam os desentendimentos mais recentes entre os estudantes e o governo socialista. Os estudantes querem participar ativamente do conselho que irá discutir a Loce. Segundo Grau, eles não aceitam o argumento de que o Ministério da Educação irá resolver o problema. "Se nos últimos 16 anos de governo o problema da educação não foi solucionado, quem assegura que não serão os mesmo de sempre que irão discutir essa questão?", questiona. "Por isso, nós exigimos uma participação efetiva nesse espaço de discussão", diz. Por outro lado, o líder estudantil acha natural o surgimento dessa discussão durante uma administração declaradamente socialista. Grau argumenta que Bachelet criou uma grande expectativa entre os movimentos sociais ao anunciar que seu governo seria "participativo". Por isso, acrescenta "era mais factível que essas demandas se mostrassem como problemas sociais agora".

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