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Desconfiança ameaça nova moeda argentina

Por Agencia Estado
Atualização:

Na véspera de completar uma semana no cargo, o presidente Adolfo Rodríguez Saá já deparou com sua primeira grande crise, que poderá colocar por água abaixo suas aspirações de permanecer no comando da Argentina por mais tempo do que o previsto. A crise veio à tona com um novo panelaço, que na madrugada do sábado atraiu 10 mil pessoas à Praça de Mayo, na frente da Casa Rosada, a sede do governo, para pedir a renúncia de diversos integrantes do gabinete presidencial. Outro revés para Saá foi a perspectiva cada vez mais intensa de que o governo teria de abandonar o projeto de criação de uma terceira moeda, o "argentino". Esta nova moeda conviveria com o peso e o dólar. No entanto, ao contrário do peso, o "argentino" não estaria respaldado pela moeda americana. O único suporte do "argentino" seria a confiança da população. O problema desta nova moeda é que já estava nascendo sem confiança, pois foi um dos alvos das críticas dos manifestantes na Praça de Mayo. "Não queremos uma moeda que nascerá inflacionada", afirmavam algumas das pessoas de classe média que foram bater panelas na frente do palácio presidencial. Desta forma, o governo estaria dando marcha à ré em um de seus principais projetos, com o qual pretendia permitir maior liqüidez no mercado. No início da semana, a criação do "argentino" era considerada inevitável. Sem esta alternativa, na tarde do sábado a equipe econômica especulava emitir US$ 3 bilhões de Lecops, um bônus federal já existente, que o governo do ex-presidente Fernando de la Rúa começou a imprimir dois meses atrás para pagar suas dívidas com as províncias. Com os Lecops, o governo pagaria os vencimentos deste mês, como salários de funcionários públicos, aposentadorias e fornecedores do Estado. Guerra civil Até de seu partido, o Justicialista (peronista), Rodríguez Saá recebeu uma saraivada de críticas. O deputado Jorge Remes Lenicov, uma das principais referências econômicas do peronismo, apoiou a ampliação da emissão dos Lecops e criticou o argentino como algo esquisito: "É preciso que a Argentina comece a fazer as coisas como fazem os outros países. Não temos de nos diferenciar inventando este tipo de coisas." Uma das principais lideranças do peronismo, o senador Eduardo Duhalde, alertou Rodríguez Saá, afirmando que teme "acontecimentos violentos" e que poderia ocorrer "uma espécie de guerra civil na Argentina. É preciso que os ânimos se acalmem e que os governos não cometam erros". Neste domingo os governadores peronistas devem se reunir com Saá para definir os novos nomes do gabinete. "O presidente precisa renovar a equipe que o acompanha", sustentou o governador peronista da província de Santa Cruz, Néstor Kirchner. Também analisarão a possibilidade de antecipar as eleições presidenciais, marcadas originalmente para o dia 3 de março. Uma das especulações é antecipar as eleições para o dia 17 de fevereiro. O juiz federal Mario Robbio determinou a suspensão das eleições presidenciais de março. No entanto, analistas consideravam que esta decisão não sobreviveria ao apelo judicial do governo e seria derrubada na Corte Suprema. Grande panelaço No meio de uma jornada de turbulências políticas, Rodríguez Saá telefonou ao presidente dos EUA, George W. Bush. No diálogo, Bush declarou apoio à Argentina, mas disse ao novo presidente que é preciso "desenvolver um plano econômico sustentável". Milhares de usuários de Internet na Argentina estão recebendo dois e-mails convocando a população para um "grande panelaço" no reveillon. Nos e-mails, propõe-se que, em lugar de lançar fogos de artifício, a população bata as panelas e toque as buzinas de seus carros em protesto contra a corrupção da classe política. Leia o especial

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