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Desconfiança do mercado se estende a Cavallo

Por Agencia Estado
Atualização:

Embora o clima de pânico no mercado finaceiro tenha ficado afastado momentamente, o risco de cessação (default) dos compromissos externos da Argentina é ainda muito grande. Pior, a desconfiança dos investidores na figura do presidente Fernando de la Rúa foi estendida também à do ministro de Economia, Domingo Cavallo. "Trata-se da parábola do marido infiel", resumiu Carlos Pérez, diretor executivo da Fundação Capital, um dos principais escritórios de consultoria financeira do país, ao se referir à Argentina. De acordo com ele, a Argentina tem a possibilidade de escapar do default, mas, para isso, terá de cumprir a promessa de "déficit zero" anunciada no início da semana passada pelo governo. Caso contrário, acrescentou o economista em entrevista à Agência Estado, não tem como fugir desse desfecho, e é isso que os investidores, e agora os políticos da oposição ao governo, estão observando. "Quando um homem casado sai à farra todas as noites, um dia a mulher se cansa, diz basta e pede o divórcio. Asssustado, o marido vira, de repente, um santo, leva flores todos os dias, compra presentes para as crianças e ainda se mostra fiel. Mesmo assim, a mulher continua querendo o divórcio, porque não confia mais. Foi isso o que ocorreu com a Argentina, ninguém mais confia e com razão", disse o economista. Para ilustrar essa parábola, Pérez lembra a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada ao final do governo Carlos Menem, em 1999. "É uma palhaçada, um fiasco, nunca foi e não será cumprida", lamentou o economista da Fundação Capital. Com base a essa lei, os governos federal e das 24 províncias argentinas se comprometiam chegar ao "déficit zero" em 2005. Este ano, por exemplo, as contas do governo não deveriam superar um saldo negativo de US$ 2,5 bilhões. Mas a tal "lei" está sendo desrespeitada e o governo De la Rúa se viu obrigado a assinar um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para chegar a um resultado de no máximo US$ 6,5 bilhões, que não será cumprido se o "novo déficit zero" do ministro Cavallo não for levado a sério. Por enquanto, explicou Pérez, a proposta do governo não é factível, até porque ainda não tem apoio político, principalmente dos governadores (14) do Partido Justicialista (peronista). "O que a Argentina precisa é uma Lei de conversibilidade fiscal, semelhante à lei de conversibilidade da moeda, para que ela seja cumprida", disse o economista. Segundo Pérez, só dessa forma os governos, tanto federal como das provínciais, poderiam mostrar um comportamendo fiscal rígido, com o compromisso de "emissão zero" de dívida pública. Isto é, explicou o economista da Fundação Capital, a idéia do déficit zero é boa, mas, por enquanto, inviável. "Consequentemente, a Argentina corre o risco de default e a experiência internacional mostra isso."

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