Descrença em acordo é de países que 'satanizam' Irã, diz Garcia

Assessor da Presidência disse que acordo nuclear é primeiro passo para um consenso internacional.

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Por Anelise Infante
Atualização:

O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse nesta segunda-feira que alguns governos não estão dispostos a acreditar em um acordo nuclear com o Irã porque "acham que o Irã é Satã". Garcia se referiu ao ceticismo a respeito do acordo mediado por Brasil e Turquia em que o Irã se comprometeu a enviar urânio para fora de seu território para obter em troca urânio com maior grau de enriquecimento. "O ceticismo não é daqueles (países) que são céticos, mas daqueles que não querem que haja acordo", afirmou ele à imprensa brasileira em Madri, para onde viajou para participar da cúpula Mercosul-União Europeia. "A minha impressão é que determinados países esperam que as sanções mudem a situação interna do Irã. É uma hipótese profundamente equivocada." Primeiro passo Garcia disse que não vê problemas no fato de o Irã ter anunciado que irá continuar a enriquecer urânio, apesar do acordo. O fato poderia justificar a necessidade de novas sanções contra o país persa, mesmo em vista do novo desdobramento. "Se as sanções fossem votadas, a Rússia iria votar uma sanção deste tamanhozinho (gesticulando com os dedos indicador e polegar quase juntos). A China não fala, mas sabemos que iria também nessa direção." O assessor da Presidência disse que o acordo fechado com a mediação do Brasil é apenas o primeiro passo para alcançar um consenso internacional. E que nenhum dos três participantes do acordo (Brasil, Turquia e Irã) considera o problema completamente resolvido. Segundo Garcia, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, entendeu que Brasil e Turquia apresentaram "uma oportunidade" para que o Irã saísse do isolamento por meio de "interlocutores que não estavam lá para satanizá-los". Ele afirmou também que o Brasil está otimista com o acordo, que definiu como "um trabalho fantástico", e espera agora que as negociações sigam em outro clima. "Todo mundo tem que entender que o conflito não está resolvido", disse. Telefonemas Depois da assinatura do acordo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para o presidente francês Nicolas Sarkozy, com quem terá um encontro bilateral nesta terça-feira em Madri. O segundo procurado pelo governo brasileiro foi o governo dos Estados Unidos. O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, entrou em contato com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Em uma conversa por telefone com a imprensa brasileira, o chanceler disse que "ela (Clinton) tem dúvidas sobre o acordo". Amorim acha que o Irã fez concessões, que o pacto considera todos os itens destacados pelo presidente Barack Obama numa carta abordando o tema enviada a Lula há um mês e que o momento agora "é de dar um tempo para as coisas acontecerem". Francesa O chanceler explicou ainda que o ponto principal para desbloquear o acordo, articulado pelo Brasil há seis meses, foi a liberação da francesa Clotilde Reiss, presa no Irã desde o ano passado. "Sarkozy disse em Manaus que (a prisão da professora) era um impedimento e nos comprometemos a mediar. Eu acho que o Brasil foi absolutamente fundamental, e o presidente Sarkozy agradeceu a Lula esta mediação", disse. O presidente Lula - que já chegou a Madri, onde nesta terça-feira participa da Cúpula entre União Europeia, América Latina e Caribe -, falou por telefone também com o presidente russo Dmitry Medvedev para explicar as bases do acordo com o Irã. Segundo o Itamaraty, Medvedev se comprometeu em falar com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e recomendou a Lula fazer o mesmo. O governo brasileiro disse ainda que o presidente russo afirmou que terá tempo para estudar o acordo e a mensagem principal é que o Irã começou a dar passos. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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