PARIS - O presidente dos EUA, Donald Trump, foi o convidado de honra do desfile militar do feriado de 14 de Julho em Paris, que aconteceu na manhã desta sexta-feira, 14, na capital francesa, e lembrou os 100 anos da entrada dos americanos na 1.ª Guerra.
O líder da França, Emmanuel Macron, fez um discurso em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, mas a principal mensagem ao meio militar foi passada na véspera. Ele enquadrou em público o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, que havia protestado contra o corte de € 800 milhões no orçamento do Ministério da Defesa no primeiro ano de governo.
A solenidade de 14 de Julho, em memória ao Dia da Bastilha - data simbólica da Revolução Francesa -, é uma tradição em Paris, mas há quase 30 anos um líder americano não era o convidado de honra. O último havia sido George H.W. Bush, em 1989.
Donald Trump foi o honrado, e pelas expressões entusiasmadas e aplausos ao lado de Macron, ficou fascinado com o desfile de tropas e aviões de caça Rafale pela Avenida Champs-Elysées. O presidente americano não chegou a discursar ou fazer declarações ao público, mas demonstrou em apertos de mão efusivos e abraços em frente às câmeras o bom entendimento com o líder francês.
A solenidade teve início às 10h, quando Macron passou em revista suas tropas, desfilando em carro aberto pelos dois quilômetros que ligam o Arco do Triunfo à Praça da Concórdia, onde o palanque de autoridades estava montado.
O chefe de Estado encontrou sua mulher, Brigitte, Trump e Melania, primeira-dama dos EUA, que o aguardavam para o início do desfile. Os dois casais já haviam jantado juntos na noite anterior na Torre Eiffel, em uma reunião íntima depois do encontro bilateral realizado à tarde, marcado pelas divergências entre os dois países sobre o Acordo de Paris, o tratado de clima, e o livre-comércio.
Como de praxe nos desfiles franceses, um grupo de aviões da Esquadrilha da França, equivalente local à Esquadrilha da Fumaça, sobrevoou a Champs-Elysées deixando um rastro de fumaça nas cores azul, branca e vermelha.
Ao final do desfile, Macron agradeceu a presença do americano ao lembrar dos laços políticos e diplomáticos históricos entre os dois países. “Neste 14 de Julho, nós celebramos a França, celebramos o que nos une, celebramos este gosto absoluto de independência que chamamos liberdade, essa ambição de dar chances a cada um que se chama igualdade”, disse.
Ele também saudou “a presença do presidente Donald Trump e sua mulher (…), ícone de uma amizade que atravessa os tempos”. “Quero agradecer aos Estados Unidos da América pela escolha feita há 100 anos", ressaltou.
Trump, que ouvia o discurso, acenou com a cabeça em sinal de reconhecimento. Minutos depois, ambos trocaram abraços efusivos. Macron os acompanhou ao carro oficial do americano, e os dois se despediram, encerrando a visita de dois dias a Paris.
Crise
O intervalo da viagem de Trump, entretanto, não foi apenas de cordialidades para Macron. Na véspera, o presidente teve de gerir um princípio de crise nas hostes militares, depois que o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Pierre de Villiers, protestou em público contra os cortes no orçamento do Ministério da Defesa.
Na quarta-feira, o general havia afirmado à Comissão de Defesa da Assembleia Nacional que “não deixaria baixar o orçamento dessa forma”. Em artigo ao jornal conservador Le Figaro, o militar também criticou o afastamento entre uma política de uso cada vez mais intensivo das Forças Armadas e de recursos em baixa.
Na noite de quinta-feira, horas antes do desfile militar – no qual estaria ao lado do oficial –, Macron enquadrou os generais. “Eu considero que não é digno levar certos debates à praça pública”, criticou o presidente. “Assumi compromissos. Eu sou seu chefe. Os compromissos, eu os assumo diante de nossos concidadãos e diante das Forças Armadas, e sei cumpri-los. Não preciso de nenhuma pressão ou comentário.”
A queda no orçamento militar foi decidida nesta semana para cumprir o objetivo de trazer o déficit público de volta ao limite de 3% do PIB, máximo aceito pelo Tratado de Maastricht, o pacto de estabilidade econômica da União Europeia.
Macron também fez referência indireta à promessa de campanha de elevar paulatinamente, a partir de 2019, o orçamento da Defesa à casa de 2% do PIB, conforme prevê a exigência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).