Macron e Trump assistem juntos a desfile militar em data simbólica da Revolução Francesa

Parada lembrou também os 100 anos da entrada dos americanos na 1.ª Guerra; há quase 30 anos um presidente americano não era o convidado de honra do evento

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Por Andrei Netto , correspondente e Paris
Atualização:

PARIS - O presidente dos EUA, Donald Trump, foi o convidado de honra do desfile militar do feriado de 14 de Julho em Paris, que aconteceu na manhã desta sexta-feira, 14, na capital francesa, e lembrou os 100 anos da entrada dos americanos na 1.ª Guerra.

O líder da França, Emmanuel Macron, fez um discurso em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, mas a principal mensagem ao meio militar foi passada na véspera. Ele enquadrou em público o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, que havia protestado contra o corte de € 800 milhões no orçamento do Ministério da Defesa no primeiro ano de governo.

Donald e Melania Trump assistem ao desfile ao lado do presidente francês na Avenida Champs-Elysées Foto: Joel Saget/AFP

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A solenidade de 14 de Julho, em memória ao Dia da Bastilha - data simbólica da Revolução Francesa -, é uma tradição em Paris, mas há quase 30 anos um líder americano não era o convidado de honra. O último havia sido George H.W. Bush, em 1989.

Donald Trump foi o honrado, e pelas expressões entusiasmadas e aplausos ao lado de Macron, ficou fascinado com o desfile de tropas e aviões de caça Rafale pela Avenida Champs-Elysées. O presidente americano não chegou a discursar ou fazer declarações ao público, mas demonstrou em apertos de mão efusivos e abraços em frente às câmeras o bom entendimento com o líder francês.

A solenidade teve início às 10h, quando Macron passou em revista suas tropas, desfilando em carro aberto pelos dois quilômetros que ligam o Arco do Triunfo à Praça da Concórdia, onde o palanque de autoridades estava montado.

O chefe de Estado encontrou sua mulher, Brigitte, Trump e Melania, primeira-dama dos EUA, que o aguardavam para o início do desfile. Os dois casais já haviam jantado juntos na noite anterior na Torre Eiffel, em uma reunião íntima depois do encontro bilateral realizado à tarde, marcado pelas divergências entre os dois países sobre o Acordo de Paris, o tratado de clima, e o livre-comércio.

Como de praxe nos desfiles franceses, um grupo de aviões da Esquadrilha da França, equivalente local à Esquadrilha da Fumaça, sobrevoou a Champs-Elysées deixando um rastro de fumaça nas cores azul, branca e vermelha.

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Ao final do desfile, Macron agradeceu a presença do americano ao lembrar dos laços políticos e diplomáticos históricos entre os dois países. “Neste 14 de Julho, nós celebramos a França, celebramos o que nos une, celebramos este gosto absoluto de independência que chamamos liberdade, essa ambição de dar chances a cada um que se chama igualdade”, disse.

Ele também saudou “a presença do presidente Donald Trump e sua mulher (…), ícone de uma amizade que atravessa os tempos”. “Quero agradecer aos Estados Unidos da América pela escolha feita há 100 anos", ressaltou.

Macron desfila ao lado do chefe do Estado Maior do Exército francês,General Pierre de Villiers, no Dia da Bastilha Foto: Alain Jocard/AFP

Trump, que ouvia o discurso, acenou com a cabeça em sinal de reconhecimento. Minutos depois, ambos trocaram abraços efusivos. Macron os acompanhou ao carro oficial do americano, e os dois se despediram, encerrando a visita de dois dias a Paris.

Crise

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O intervalo da viagem de Trump, entretanto, não foi apenas de cordialidades para Macron. Na véspera, o presidente teve de gerir um princípio de crise nas hostes militares, depois que o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Pierre de Villiers, protestou em público contra os cortes no orçamento do Ministério da Defesa.

Na quarta-feira, o general havia afirmado à Comissão de Defesa da Assembleia Nacional que “não deixaria baixar o orçamento dessa forma”. Em artigo ao jornal conservador Le Figaro, o militar também criticou o afastamento entre uma política de uso cada vez mais intensivo das Forças Armadas e de recursos em baixa.

Na noite de quinta-feira, horas antes do desfile militar – no qual estaria ao lado do oficial –, Macron enquadrou os generais. “Eu considero que não é digno levar certos debates à praça pública”, criticou o presidente. “Assumi compromissos. Eu sou seu chefe. Os compromissos, eu os assumo diante de nossos concidadãos e diante das Forças Armadas, e sei cumpri-los. Não preciso de nenhuma pressão ou comentário.”

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A queda no orçamento militar foi decidida nesta semana para cumprir o objetivo de trazer o déficit público de volta ao limite de 3% do PIB, máximo aceito pelo Tratado de Maastricht, o pacto de estabilidade econômica da União Europeia.

Macron também fez referência indireta à promessa de campanha de elevar paulatinamente, a partir de 2019, o orçamento da Defesa à casa de 2% do PIB, conforme prevê a exigência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

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