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'Deus abençoe Trump', dizem sírios da cidade alvo de ataque químico após ação americana

Moradores comemoram e pedem novas medidas dos EUA no combate ao regime de Bashar Assad

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Por Redação
Atualização:

Na cidade síria de Khan Sheikhun, vítima de um "ataque químico" na terça-feira 4, a população ainda chora seus mortos, enquanto manifesta esperança de que os ataques americanos deem uma lição a seu inimigo, o presidente Bashar Assad. "Que Deus abençoe Trump!", grita Abu Ali, um morador do local onde 86 pessoas morreram, entre elas 30 crianças.

59 mísseis Tomahawk foram lançados de destróieres americanos do leste do Mar Mediterrâneo contra a base aérea de Al Shayrat, na Província de Homs Foto: Robert S. Price/Courtesy U.S. Navy/Handout via REUTERS

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Três dias depois da tragédia, os habitantes ainda têm dificuldade para falar sobre o que aconteceu, as famílias continuam recebendo condolências de visitantes, e as ruas seguem com pouco movimento. "Ainda estamos em choque", afirma um morador, lembrando das crianças tomadas por convulsões ou que foram encontradas mortas em casa, nas ruas.

Algumas horas depois da primeira ação militar americana contra o governo de Damasco desde o início do conflito sírio, Abu Ali comemora os ataques dos Estados Unidos. A ofensiva teve como alvo uma base militar de onde teria decolado - segundo os americanos - o avião que teria lançado substâncias químicas sobre Khan Sheikhun.

"É um alerta claro a Bashar Assad: chega de assassinatos e de injustiça!", acrescenta ele, esperando que Assad, Irã e Rússia vejam nesse episódio um "sinal" sobre a "mudança do equilíbrio de forças".

Abu Muhib, um desertor do Exército sírio de 37 anos, quer que o governo americano vá ainda mais longe. "É preciso punir o criminoso, e não o instrumento do crime", alegou. Para ele, os ataques ordenados por Donald Trump após o "ataque químico" atribuído ao governo sírio "não faz justiça aos parentes dos mártires, são apenas uma consolação".

Como muitos habitantes, Hajj Kassar, um comerciante local, espera que não se trate apenas de uma "reação" ao drama de Khan Sheikhun. "Trata-se de vingar os mártires caídos aqui, os bebês, as mulheres mortas enquanto dormiam, as pessoas andando nas ruas, aqueles que buscaram abrigo, onde a morte lhes alcançou", completou.

Guerra. "Onde estão os americanos? Olha a Força Aérea nos ameaçando de novo", aponta Kassar, enquanto uma aeronave síria bombardeia uma estrada ao norte da cidade, sem deixar vítimas.

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O conflito na Síria começou há seis anos, com manifestações pacíficas contra o governo Assad. Duramente reprimidas por Damasco, transformaram-se em rebelião armada. Desde então, já são mais de 320 mil mortos e milhões de deslocados.

Ao longo dos últimos meses, as tropas do governo infligiram uma série de derrotas aos insurgentes. Nos territórios rebeldes, os ataques americanos desta madrugada parecem ter trazido a esperança de volta a seus habitantes.

"Somos agradecidos à Força Aérea americana por ter respondido ao massacre de Khan Sheikhun", disse Ali al-Khaled, que mora no bairro atingido pelo ataque químico. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o ataque de Khan Sheikhun é o segundo dessa natureza desde o de 2013, no qual mais de 1.400 pessoas morreram, na região rebelde da Ghuta Oriental, perto de Damasco.

Na época, o governo de Barack Obama disse estar pronto a atacar o Exército de Assad, mas a ação militar acabou sendo descartada.

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Em Duma, principal cidade da Ghuta, os moradores celebraram o ataque americano, mas pedem mais intervenção. "Não queremos um único ataque, para que, depois, os crimes continuem", disse à AFP Abu Shahid, de 30 anos. "É necessário um meio de dissuasão mais importante. Não acho que [os ataques] sejam suficientes", completou.

Alguns querem que Washington impeça os aviões sírios de sobrevoarem a região. "Na realidade, os sírios querem uma zona de exclusão aérea", comenta Hassan Taqiddin, de 27. "Porque, no fim das contas, esses ataques têm um efeito limitado. Eles atacam um aeroporto e, então, o quê?", desabafou.

Em Khan Sheikhun, Abu Ali recorda que "uma parte do povo sírio fugiu do país, outra está enterrada, e outra está em busca de ajuda humanitária". "Não queremos comida. Queremos exatamente que [Donald] Trump e seu governo ponham fim a essa farsa", frisou. /AFP

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