Dez anos sem Jean Charles, o brasileiro morto em Londres

Eletricista foi confundido com terrorista e atingido à queima-roupa por polícia; família ainda luta para que responsáveis sejam punidos 

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Por Redação
Atualização:

LONDRES - Nesta quarta-feira, 22, completam-se dez anos desde que o brasileiro Jean Charles de Menezes foi morto a tiros pela polícia de Londres ao ser confundido com um terrorista suicida no metrô. A família dele ainda luta para que os responsáveis pelo incidente sejam punidos.

Durante os 10 anos, a família fez uma intensa campanha para levar à Justiça os policiais da ação que acabou com a morte de Jean, caso que causou grande comoção e colocou em xeque o profissionalismo da Polícia Metropolitana, a Scotland Yard.

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O jovem eletricista tinha 27 anos quando na manhã de 22 de julho de 2005 foi morto à queima-roupa pela polícia na Estação Stockwell, no sul de Londres.

A polícia londrina estava sob forte pressão, pois buscava os responsáveis pela tentativa de atentados do dia anterior contra a rede de transporte londrina - que seriam uma repetição dos ataques realizados duas semanas antes, em 7 de julho, contra três trens do metrô e um ônibus, quando 52 pessoas morreram.

A casa de Jean Charles no sul de Londres foi vigiada a noite inteira por agentes que suspeitavam que um dos autores dos atentados do dia 21 de julho morava no local. Quando o brasileiro saiu de manhã para ir ao trabalho, foi seguido pela polícia.

Pelo aspecto físico do eletricista, moreno e de olhos escuros, os policiais o associaram a um acusado de terrorismo.

Jean Charles chegou à Estação Stockwell e, ao entrar em um dos vagões, foi atingido por sete tiros na cabeça e um no ombro.

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Diante do olhar atônito de outros passageiros, os policiais, que pertenciam à unidade armada de elite CO19, acreditavam ter evitado um novo massacre em Londres.

Após o caso de Jean Charles, a Promotoria decidiu excluir de responsabilidade criminal os policiais envolvidos. A Polícia Metropolitana foi multada em 175 mil libras por não cumprir a Lei sobre Saúde e Segurança no Trabalho, uma ampla legislação trabalhista que exige o cuidado dos funcionários e de terceiros que possam ser afetados no exercício de um trabalho determinado.

Em 2006, a comandante Cressida Dick, a cargo da operação que matou o brasileiro, foi promovida a assistente do subcomissário, o que provocou uma forte reação da família de Jean, que considerou a promoção "repugnante".

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Em 2009, a Scotland Yard e os parentes de Jean Charles chegaram a um acordo que incluía o pagamento de 100 mil libras pelas Forças da Ordem como indenização. A polícia também já havia repassado recursos para financiar a repatriação do corpo a seu local de nascimento.

Mas a decisão britânica de não processar nenhum dos policiais fez com que a família levasse o caso ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que atualmente atende a essa reivindicação. Esse processo foi apresentado por uma prima de Jean Charles, Patricia Armani da Silva, e a expectativa é de que o tribunal divulgue sua decisão nos próximos meses. /EFE

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