Dia a dia, tensão étnica está no ar em Urumqi

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Por Cláudia Trevisan
Atualização:

A distância que separa os chineses hans dos uigures fica evidente logo que se entra no bairro muçulmano da cidade de Urumqi, um mundo pontuado pelos minaretes das mesquitas, no qual a língua corrente é uigur e tudo é distinto da parte chinesa da capital de Xinjiang. Os rostos são semelhantes aos dos habitantes da Ásia Central e muitos homens têm barba ou bigode, algo raríssimo entre os hans. O guarda-roupa também tem um caráter distinto: a maioria das mulheres usa véus ou lenços na cabeça e vestidos compridos, enquanto os homens têm a boina típica dos muçulmanos. Os restaurantes servem comida típica da região e têm letreiros em uigur, escrita semelhante ao árabe. Os supermercados têm forte identidade local e vendem uma infinidade de frutas secas, como pistaches, amêndoas e castanhas e iogurte - um clássico da dieta uigur. Apesar de o bairro ter sido o epicentro dos confrontos de domingo, a situação ontem era mais tranquila. Alguns restaurantes estavam abertos, um supermercado funcionava normalmente e vários ambulantes vendiam frutas nas ruas. Mas o Bazaar, coração do bairro, estava fechado e cercado por soldados. A região é visivelmente mais pobre que a parte habitada pelos hans em Urumqi, o que reforça a queixa dos uigures de que não são beneficiados pelo crescimento econômico na mesma proporção que a etnia majoritária da China. Para os hans, a insatisfação dos uigures não tem justificativa. Muitos ressaltam que os muçulmanos são favorecidos por políticas afirmativas, entre as quais a que lhes dá vantagem na admissão em universidades. Além disso, as minorias étnicas não estão sujeitas às mesmas regras de controle de natalidade aplicada aos hans e podem ter dois ou mais filhos.

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