Diálogo com Havana atrai críticas ao governo da Espanha

Zapatero é acusado de vender a libertação como sinal de abertura na ilha enquanto a repressão continua

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MADRIA libertação dos presos políticos cubanos não é unanimidade na Espanha. Nas ruas de Madri, a opinião pública se divide nas avaliações sobre o modo como o governo do primeiro-ministro José Luis Zapatero tratou o caso. No meio político, o chefe de governo é denunciado por "populismo" por negociar com Havana sem exigir uma abertura democrática.As libertações não garantem mais liberdade na ilha e mesmo se o presidente Raúl Castro cumprir a promessa de soltar os 52 dissidentes detidos na onda repressiva de 2003, mais de 100 presos políticos permanecerão atrás das grades, segundo grupos cubanos de defesa dos direitos humanos. A Espanha defende que a União Europeia se aproxime de Cuba para ampliar sua influência sobre a ilha e, no longo prazo, favorecer a democratização. Sua proposta é que o bloco relaxe a política comum em relação a ilha, acordada em 1996, que exige avanços em questões relacionadas aos direitos humanos e a democracia antes de qualquer normalização das relações. Em Madri, as principais críticas são dirigidas ao ministro das Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, que estaria tentando "vender" a imagem de um avanço nas relações políticas com Cuba, quando o que está em jogo, na opinião dos céticos, é apenas a libertação de dissidentes (concessão já feita pelo regime da ilha em outras ocasiões). Uma porta-voz dessa posição é a governadora da região de Madri, Esperanza Aguirre, do Partido Popular, de direita, que faz oposição a Zapatero. Para ela, a libertação "é uma troca do cárcere pelo desterro". Segundo Esperanza, Moratinos "trata com suavidade e amabilidade a ditadura cubana para que faça gestos como o que foi feito". "A ditadura cubana deveria acabar de vez com a pressão aos cidadãos e fazer com que a liberdade e a democracia voltem a Cuba", afirma. Reação popular. Posições semelhantes, muito ácidas em relação ao governo espanhol, podem ser encontradas nas ruas de Madri. "Todos os que estão vindo pensam em trabalhar onde? Eu estou procurando emprego e não acho nada", protestou Jesus Carrillo, desempregado há 14 meses, lembrando dos 20% de trabalhadores que não encontram vagas na economia do país. Ao ouvir a queixa, feita em um café no centro de Madri, o aposentado Pepe Pérez Fontes, de 72 anos, questionou os encargos financeiros da negociação com Havana: "Quanto vai nos custar isso?" / A. N.

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