DIÁRIO DE HAVANA: Carros dos anos 50 ainda são símbolos das ruas da capital
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Por Cláudia Trevisan e Havana
Por Cláudia Trevisan e Havana
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Carro é um bem passado de pai para filho em Havana. Muitos já estão na terceira geração de proprietários e se valem do engenho cubano e do mercado paralelo para mantê-los andando em meio ao embargo econômico dos EUA. Peças são inventadas, substituídas pelas de outros veículos ou trazidas na mala por amigos que vêm do exterior.
A chance de cubanos saírem e cubano-americanos entrarem no país abriu um mercado informal que vai de roupas a motores de arranque.
A frota nas ruas da capital é o retrato da geopolítica vivida pelo país nos últimos 60 anos. Os Chevrolets da década de 50 – cerca de 60 mil exemplares – são a memória ambulante do período em que os EUA tinham domínio econômico da ilha e a máfia administrava hotéis, cassinos e casas noturnas.
Novos tempos em Cuba
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Novos tempos em Cuba
Cubanos acessam sinal de internet em um dos 35 pontos de Havana que têm Wi-Fi; apesar de ter sido reduzido, preço é muito alto Foto: REUTERS/Enrique de la Osa
Carros dos anos 50 que funcionam como táxis em Havana - As imagens de Havana foram feitas pela correspondente do Estadão Cláudia Trevisan e por agênci... Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
Juan, de costas, e vizinhos do bairro Romerillo; todos dizem que os salários que recebem são insuficientes para viver e esperam mudanças com a retomad... Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
Muro com slogans em frente à Embaixada dos EUA, na Tribuna Anti-Imperialista Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
Félix Bueno, 64, em sua casa no bairro Romerillo; Na parede, uma imagem modificada de Che Guevara, feita por um artista mexicano. Nas mãos, a foto de ... Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
José Luís, motorista da reportagem do Estado, com seu Moscovich 1980, que herdou do pai, e o gancho improvisado que usa para manter o vidro fechado Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
Juan em sua casa em Romerillo com uma manga que custa 5 pesos (0,25 dólares); com aposentadoria e trabalho de vigia, ele ganha 360 pesos por mês Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
Prédio da Embaixada dos EUA em Havana Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
Cubanos consertam carro americano dos anos 50 no bairro Romerillo, em Havana Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
Jornal que está no Museu da Revolução; com data de 4 de janeiro de 1961, anuncia a decisão dos EUA de romper relações com Cuba Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
Carros dos anos 50 que funciona como táxi em Havana; várias pessoas tomam o mesmo veículo, que faz um trajeto definido ao custo de US$ 0,40 Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
Grupo de turistas passeia em antigo carro conversível em Havana. Para americanos, visitar Cuba é uma verdadeira "viagem no tempo" Foto: Alejandro Ernesto_EFE
É cada vez mais comum a presença de turistas americanos em Havana, atraídos por construções antigas e carros clássicos que ainda circulam pelas ruas Foto: Alejandro Ernesto / EFE
Altar onde Papa Francisco rezará a primeira missa em território cubano Foto: Alejandro Ernesto / EFE
A retomada das relações entre EUA e Cuba está permitindo a entrada de navios de cruzeiros e elegantes iates de luxo no território cubano Foto: Desmond Boylan / AP
Preparativos para receber o Papa em Havana começam a mudar a fachada da capital. Pontífice chega à cidade no dia 19 de setembro Foto: Alejandro Ernesto / EFE
Turistas caminham em Havana e desfrutam de uma autêntica "viagem no tempo" Foto: Alejandro Ernesto / AP
Segurança caminha ao lado do iate americano Still Waters, atracado na marina Hemingway, em Havana Foto: Desmond Boylan / AP
Grupo de turistas visita uma feira de livros em Havana. Muitos americanos querem visitar a ilha para saber o que mudou em 50 anos Foto: Alejandro Ernesto / AP
Trabalhadores cubanos constroem altar para a visita do Papa Francisco Foto: Alejandro Ernesto / EFE
Cachorro com fantasia em desfile de Carnaval em Santiago. Festividade deve atrair mais turistas a cada anoapós a retomada das relações com os EUA Foto: Alejandro Ernesto / EFE
A maioria dos carros clássicos se converteu em um meio de transporte híbrido de táxi e ônibus. Com trajetos mais ou menos definidos, os motoristas lotam os carros com até oito passageiros, que pagam de 10 a 20 pesos pela corrida, dependendo da extensão – valores equivalentes a US$ 0,40 e US$ 0,80.
Outros preferem transportar turistas, ao preço mínimo de 5 CUCs (US$ 5,7), a moeda conversível cubana, que é usada por estrangeiros e cada vez mais por cubanos. Também há uma frota oficial de táxis, com novos carros amarelos. Mas o preço a torna inalcançável para a maioria dos cubanos: uma corrida do aeroporto ao centro de Havana custa 25 CUCs (US$ 29), valor que supera o salário médio mensal, que ronda os US$ 20.
O período de influência soviética é representado por carros menos glamourosos, como os pequenos Lada e Moscovich. José Luis, o motorista que me conduz por Havana, é dono de um Moscovich 1980 que herdou do pai. Dilapidado como grande parte da paisagem urbana de Havana, o carro é reparado pelo próprio dono, com peças que saem de outros Moscovichs.
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Os mecanismos dos vidros, já originalmente manuais, não funcionam. Quando começou a chover no trajeto do aeroporto ao hotel, José Luís teve de parar o carro para puxar os vidros das duas portas com as mãos. Para mantê-los fechados, desenvolveu um gancho que os sustenta.
Ex-militar, José Luís viveu cinco anos na União Soviética, até 1983. Desde 1993, se vira como pode no incipiente mundo da iniciativa privada cubana – é um “faz tudo” que presta serviços de encanador, eletricista, pintor e motorista. A precariedade do carro se reflete no preço. José Luís cobra 30 CUCs por dia de trabalho, pouco mais de uma corrida do aeroporto à cidade em táxi oficial.
Mas a opção por ele e seu Moscovich não foi definida por questão financeira. José Luís foi recomendado por meu colega José Maria Mayrink, que o conheceu quando esteve em Cuba nos anos 90.