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Dilma diz que crise causará desequilíbrios

Presidente teme que economia dificulte convívio entre nações, mas aponta oportunidade histórica

Por Lisandra Paraguassu e NOVA YORK
Atualização:

A primeira participação da presidente Dilma Rousseff na Assembleia-Geral das Nações Unidas não causou impacto apenas por ela ser a primeira mulher a abrir uma sessão. Em um discurso forte, a presidente demonstrou o temor pela situação econômica mundial e advertiu: a crise atual pode causar sérios desequilíbrios na convivência entre as nações e essa é a hora de abrir caminho para novas ideias. "O mundo vive um momento extremamente delicado e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade histórica. Enfrentamos uma crise econômica que, se não for debelada, pode se transformar em uma grave ruptura política e social. Uma ruptura sem precedentes, capaz de provocar sérios desequilíbrios na convivência entre as pessoas e as nações", disse. "O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se encolhem, a face mais amarga da crise - a do desemprego - se amplia." Sem culpados. Apesar de garantir que não era hora de procurar os culpados pela crise atual - porque esses já eram conhecidos - Dilma afirmou que o Brasil não pretende colocar seu futuro nas mãos dos mesmos governos que vê como responsáveis pelo problema. "Essa crise é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam com a responsabilidade maior na condução do processo, mas como todos os países sofrem as consequências da crise, todos têm o direito de participar das soluções", afirmou. "Mais do que nunca, o destino do mundo está nas mãos de todos seus governantes, sem exceção. Ou nos unimos e saímos, juntos, vencedores, ou sairemos todos derrotados." Guerra cambial. As críticas, no entanto, não se resumiram aos países chamados desenvolvidos, cujos problemas financeiros, dívidas internas e recessão são, na maior parte, a causa da atual crise econômica.A guerra cambial, defendeu, precisa ser controlada: "É preciso impor controles à guerra cambial, com a adoção de regimes de câmbio flutuante. Trata-se, senhoras e senhores, de impedir a manipulação do câmbio tanto por políticas monetárias excessivamente expansionistas quanto pelo artifício do câmbio fixo". O recado tem endereço certo: a China. Apesar das constantes críticas, apelos e ameaças, o governo chinês continua a manter sua moeda artificialmente baixa como uma forma de tentar garantir os preços baixos de suas mercadorias. Esta semana, o governo brasileiro apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC) uma proposta de discussão sobre formas de regulação do câmbio. A fala da presidente, no entanto, não se resumiu às reclamações. Dilma repetiu que o governo brasileiro quer ajudar.Ao afirmar que a situação brasileira é melhor do que a da maioria dos demais países e assegurar que o Brasil vive hoje uma situação "quase de pleno emprego", reconheceu que essa resistência não é ilimitada. "Queremos e podemos ajudar, enquanto há tempo, os países onde a crise já é aguda."

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