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Diplomatas dos EUA entrarão em contato com tripulantes amanhã

Por Agencia Estado
Atualização:

Funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em Pequim deverão ter amanhã o primeiro contato com 24 membros da tripulação de um avião de espionagem da Marinha dos Estados Unidos, que fez um pouso de emergência na ilha chinesa de Hainan, no domingo, depois de uma colisão no ar, sobre águas internacionais, com um caça chinês. O avião chinês caiu no mar. Os tripulantes norte-americanos foram detidos por soldados chineses e recolhidos a um local não divulgado. A informação sobre a visita dos diplomatas norte-americanos aos tripulantes foi divulgada pelo Departamento de Estado pouco depois de o presidente dos EUA, George W. Bush, ter feito seu primeiro pronunciamento sobre o incidente para pedir a Pequim "acesso imediato à tripulação" e seu retorno, bem como a devolução da aeronave "sem novos danos nem novas interferências", com seus equipamentos. Diante da primeira crise internacional potencialmente séria, o líder norte-americano afirmou que "a falta de uma pronta reação chinesa a nosso pedido é inconsistente com a prática diplomática padrão e com o desejo expresso dos dois países por melhores relações". Uma variação do Orion P-3, da Lockheed, o EP-3E é um turboélice de quatro motores que carrega a última geração de tecnologia de espionagem eletrônica do arsenal norte-americano. Num gesto aparentemente calculado para manter a temperatura da crise sob controle, o presidente norte-americano disse que os Estados Unidos haviam oferecido ajuda à China na busca por seu caça desaparecido. Bush falou depois de uma reunião com os secretários de Estado, Colin Powell, e de Defesa, Donald Rumsfeld, e a conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice. De acordo com funcionários norte-americanos, em sua última comunicação, no domingo, a tripulação do avião informou que tropas chinesas estavam entrando na aeronave. Um porta-voz do Comando dos Estados Unidos no Pacífico disse que os chineses não tinham permissão para entrar no avião. "O aparelho é considerado território soberano dos EUA e os chineses não podem apreendê-lo, inspecioná-lo nem enviar pessoal à bordo sem permissão", afirmou o comandante Sean Kelly. Paralelamente, fontes do Pentágono disseram que a Marinha manterá três navios no Mar da China para "monitorar a situação". No domingo, David Shambaugh, um especialista em questões militares na China, na Universidade George Washington, disse que o episódio "tem potencial para se transformar num grande incidente internacional se os chineses tentarem examinar o avião ou forçarem a tripulação a deixá-lo". Mas Mary Ellen Countryman, a porta-voz do Conselho de Segurança da Casa Branca, evitou comentar hoje se os EUA consideram que os membros da tripulação estão detidos contra sua vontade ou caracterizar o acidente como uma crise. "Não chamaria isso de uma ameaça séria", disse ela. "No momento, é algo não resolvido e temos que esperar para ver como (o caso) é tratado". Num cenário negativo, Pequim poderia retardar ou impor condições para retorno dos 24 tripulantes do avião e a devolução do avião. A expectativa em Washington, no entanto, é que o primeiro contato com a tripulação ajude a determinar o tipo de conserto que precisa ser feito no avião norte-americano para que ele possa voar de volta à sua base, na ilha de Okinawa, Japão. Washington precisa dessas informações para negociar com os chineses a ida a Hainan de uma equipe para fazer os reparos necessários. O incidente ocorre num momento sensível para relações entre a nova administração republicana em Washington e o governo de Pequim, apenas algumas semanas antes de o presidente Geroge W. Bush decidir se fornecerá armas avançadas para melhorar a defesa de Taiwan. Um estudo secreto do Pentágono, revelado no domingo pelo jornal The New York Times, concluiu que Taiwan precisa de uma quantidade significativa de novos armamentos, incluindo um sistema de radar instalado em navios que está no topo da lista das coisas que Pequim não quer que os Estados Unidos forneçam a Taipé. Desde a posse de Bush, a deserção, para os EUA, de um coronel do Exército chinês, e a prisão de pesquisadores norte-americanos de origem chinesa em visita à China colocaram a relação entre os dois países à prova. A resolução do incidente com o avião-espião da Marinha terá de ser buscada num ambiente de diálogo mais tenso, no qual os chineses acreditam que seu país passou a ser visto e tratado por Washington mais como um competidor militar do que como um parceiro comercial.

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