Direita argentina é favorita hoje após campanha marcada por reviravoltas

No último ano da disputa pela presidência, três candidatos estiveram na liderança e consultorias erraram ao prever ampla vitória kirchnerista; agora elas indicam vantagem de conservador

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Por Rodrigo Cavalheiro , Correspondente e Buenos Aires
Atualização:

BUENOS AIRES - O candidato conservador à presidência argentina, Mauricio Macri, votará hoje em Buenos Aires com um dilema. Torcerá para que estejam corretas pesquisas de opinião que o apontam como favorito e há três semanas o colocavam como azarão diante a seu rival, o governista Daniel Scioli.

No primeiro turno, Macri obteve 34,1% dos votos, ante 37% do adversário, uma margem que nem a sondagem mais otimista da coalizão de direita que ele representa previu. Scioli, o candidato indicado por Cristina Kirchner para ser seu substituto esperava alcançar 40% e abrir 10 pontos sobre o segundo colocado para ganhar logo. A diferença pequena inverteu as expectativas de triunfo. 

O Kirchnerista Daniel Scioli (E) e o conservador Mauricio Macri se enfrentam em 2º turno inédito na Argentina Foto: AFP

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Nas três últimas semanas, todas consultorias, até as mais ligadas ao kirchnerismo, deram vantagem ao conservador, que governa a capital argentina há oito anos. A diferença varia de 3 a 15 pontos. “Parece um triunfo assegurado, ainda que isso dependa dos indecisos, do número de eleitores e de onde haverá maior abstenção”, disse ao Estado Mariel Fornoni, diretora da consultoria Management & Fit.

A participação por região importa. O kirchnerismo domina o norte, o nordeste e o sul, áreas mais pobres, mais dependentes do Estado e menos povoadas. Macri atrai eleitores das maiores cidades: Buenos Aires, Córdoba, Rosário e Mendoza. Elas estão em zona ricas, ligadas ao turismo, à indústria automobilista ou à agropecuária.

A maior surpresa da coalizão de direita no primeiro turno foi tirar do peronismo, após 28 anos, o governo da Província de Buenos Aires, administrada por Scioli há 8 anos. Uma reação governista depende da remobilização dos moradores dessa província, que tem 37% do eleitorado do país e inclui a área metropolitana de Buenos Aires. Ele encerrou sua campanha no município mais populoso da região, La Matanza, com 2 milhões de habitantes. Ali, levou perto do literal sua campanha de demonização do rival. “São muito sérios esses pactos com os diabos do candidato Macri”, afirmou Scioli, na tentativa de provocar a reviravolta definitiva num ano cheio delas.

Em 22 de novembro de 2014, o favorito para substituir Cristina Kirchner era Sergio Massa, que abandonara o governo um ano antes. Ele fundou uma frente parlamentar e barrou a mudança constitucional que permitiria a Cristina disputar um terceiro mandato. Seus 5,2 milhões de eleitores (21,3%) decidirão a disputa. “Cerca de 60% dos votos dele vão para Macri, o suficiente”, afirma o sociólogo e consultor Ricardo Rouvier, que vê no conservador o mérito de ter aceitado avanços kirchneristas.

O declínio de Massa como principal opositor ocorreu após a morte do promotor Alberto Nisman em 18 de janeiro, encontrado com um tiro na cabeça quatro dias depois de acusar a presidente de encobrir a autoria de um atentado terrorista em 1994 em Buenos Aires. A denúncia foi arquivada e Cristina manteve média de 40% de aprovação. A morte não esclarecida passou à margem da campanha, mas aumentou a tensão entre Executivo e Judiciário.

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Contrariando expectativas, em junho Cristina decidiu não ser candidata a nada - seus críticos apostavam que buscaria um cargo parlamentar como escudo de investigações - e deu a bênção como seu representante a Scioli, longe de ser seu preferido. Ele esperava somar com mais facilidade moderados ao público kircherista fiel, cerca de 30% da população. A superexposição de Cristina em 44 cadeias nacionais obrigatórias ajudou a afugentá-los. 

Hoje a rejeição de Scioli superou a de Macri, provavelmente a reviravolta mais sutil da campanha. O milionário amenizou, visitando casas de eleitores e espalhando essas fotos e vídeos na campanha, a pecha de candidato dos ricos. Hoje se saberá se isso foi suficiente para colocar a faixa dia 10. Questionado se teria um gosto especial recebê-la de Cristina, disse: “Acho que os fotógrafos brigarão por essa foto”.

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