Direita deve ampliar poder na França

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Os franceses voltarão amanhã às urnas pela quarta vez em menos de dois meses para o último turno deste longo período eleitoral que já resultou na reeleição do presidente Jacques Chirac e deverá ser concluído com a eleição de uma ampla maioria liberal-conservadora na Assembléia Nacional. A última pesquisa do grupo Ipsos revela que a direita clássica deverá obter neste domingo 53% dos votos, em comparação a 47% da esquerda. Na segunda-feira, o governo do primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin deverá ser confirmado por Chirac, mas não se excluem pequenas mudanças. Salvo grande surpresa, os partidos próximos do presidente, a União para a Maioria Presidencial (UMP), e a União da Democracia Francesa (UDF), poderão ficar com um total entre 384 e 414 das 577 cadeiras do plenário da Assembléia Nacional, enquanto a esquerda, socialistas, verdes e comunistas conseguiriam entre 115 e 145 cadeiras. Mesmo isoladamente a UMP, partido criado pelo presidente Chirac para substituir a Reunião para a República (RPR), poderá reunir um número de parlamentares que garantirá maioria absoluta na Assembléia - acima de 289 cadeiras. Quanto aos dois partidos da extrema direita, a Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen, e o Movimento Nacional Republicano (MNR), mesmo reunidos, não deverão conseguir eleger nenhum deputado, prejudicados pelo sistema majoritário de dois turnos. Quanto ao Partido Comunista (PCF), segundo os institutos de pesquisa, só poderá eleger de 14 a 22 deputados. Ora, 20 é o número de deputados exigido pela lei para que um partido possa constituir um grupo parlamentar na Assembléia. Pela primeira vez na chamada 5ª República os comunistas estão ameaçados de não preencher as exigências legais. Também os verdes se encontram em situação delicada, devendo eleger um reduzido número de representantes - entre dois e cinco deputados. Na semana passada, os partidos de esquerda procuraram convencer seu eleitorado a comparecer em massa às urnas, preocupados com a abstenção registrada domingo passado (quase 36%, um recorde), mas seus discursos não parecem ter convencido os eleitores. Todas as pesquisas continuam indicando uma fraca participação. Isso explica, por exemplo, a difícil posição em que se encontra o primeiro-secretário do PS, François Hollande, líder da campanha da "esquerda unida" nas eleições presidenciais que não conseguiu motivar os franceses simpatizantes da esquerda. Eleitores comunistas e populistas são os mais reticentes ao voto. A derrota de Hollande na circunscrição de Tulle, na Corréze, se confirmada, deverá custar também a ele a cadeira como chefe dos socialistas franceses. O primeiro-secretário do PS foi o político que mais atacou o presidente Jacques Chirac, inclusive no plano pessoal, durante a campanha presidencial. Por isso, Chirac parece ter feito da derrota de Hollande um ponto de honra. Ele despachou para essa cidade, sua mulher, a primeira-dama Bernadette Chirac, e seu primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin, para manifestar total apoio ao adversário do primeiro-secretário do PS. Antes mesmo da confirmação dessa anunciada derrota pelos institutos de pesquisa de opinião, a esquerda já procura novos caminhos, passando em revista suas estratégias e alianças. O PS que deverá preservar sua hegemonia em relação às demais forças de esquerda está abrindo um debate sobre sua nova estratégia, sem precipitação. Pretendendo lançar o desafio que consiste em cobrir um espaço político mais amplo que poderá ir do centro-esquerda à esquerda, tentando marginalizar a extrema esquerda. Os analistas chamam atenção para o fato de que a derrota no primeiro turno das eleições legislativas deve ser atribuída as outras forças de esquerda, pois isoladamente o PS com 27% dos votos registra um crescimento em relação a 1997, data do último pleito. A França caminha para a bipolarização - entre dois grandes partidos, um liberal conservador, a UMP de Jacques Chirac, e outro, o Partido Socialista, enquanto os demais tendem a reduzir sua influência. Esse é o caso do PC e da extrema esquerda, que não deve eleger nenhum deputado. À direita, a UDF de François Bayrou permanece como força de apoio ao presidente, mas fora de sua órbita. O Partido Socialista parece disposto a assumir mais abertamente sua condição social-democrata e seu social-reformismo. Mas, dependendo do resultado de hoje, se alguns de seus líderes não forem reeleitos, poderão ocorrer mudanças a curto prazo na direção partidária. Laurent Fabius quer a adoção de um socialismo moderno, em outras palavras, o social-liberalismo do tipo inglês, imposto pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, o único social-democrata que está conseguindo escapar da vaga conservadora que toma conta da Europa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.