Discurso de Assad foi 'oportunidade perdida', diz enviado da ONU

Crise na Síria tem de ser resolvida neste ano, ou 'não haverá mais Síria', opina Lakhdar Brahimi em entrevista à BBC.

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Por BBC Brasil
Atualização:

A crise na Síria tem de ser resolvida neste ano, ou "não haverá mais Síria", disse à BBC o enviado especial da ONU e da Liga Árabe ao país conflagrado, Lakhdar Brahimi. Em entrevista à correspondente da BBC Lyse Doucet, Brahimi afirmou que o recente discurso do presidente sírio, Bashar Al-Assad, foi uma "oportunidade perdida" de resolver a crise na Síria. No discurso, em 6 de janeiro, Assad chamou seus opositores de "inimigos de Deus e fantoches do Ocidente" e propôs um plano de paz, segundo o qual forças de fora deveriam parar de armar "grupos terroristas" e só então o Exército suspenderia suas operações militares, reservando-se o direito de defender "interesses do Estado". O governo, então, entraria em contato com o que ele chamou de "indivíduos sírios e partidos políticos" para que se estabeleça um diálogo nacional. Para Brahimi, porém, a fala de Assad foi "mais sectária e unilateral do que as iniciativas prévias". Impasse O enviado já se reuniu diversas vezes com o regime sírio, mas houve poucos avanços no processo de paz no país, convulsionado desde março de 2011. O saldo de mortos em conflitos desde então é de 60 mil mortos. "No momento, não há processo político. Os sírios falam duas línguas completamente diferentes", declarou Brahimi. Na entrevista à BBC, Brahimi admitiu que há pouca probabilidade de avanços nas conversas entre o governo sírio e a oposição. O foco de sua atuação, disse, será resolver as diferenças entre os atores externos ao conflito, como EUA e Rússia (este último é um dos principais apoiadores do regime sírio, sendo responsável por vetar resoluções contra Damasco no Conselho de Segurança da ONU). Brahimi também confirmou que Assad lhe disse que pretende concorrer novamente à Presidência da Síria nas eleições de 2014, apesar das pressões para que deixe o poder. Fome e refugiados Em meio ao impasse político, cresce a dimensão da crise humanitária na Síria. Na última terça, a ONU informou que há 1 milhão de sírios passando fome em decorrência dos 22 meses de conflito. O Programa Mundial de Alimentos, da entidade, diz enfrentar dificuldades para entregar mantimentos para uma parcela da população, por conta de restrições ao uso de portos, ataques aos caminhões de entrega e falta de combustível. E o número de refugiados sírios cresceu, chegando a um total de 597,2 mil. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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